Jornalismo declaratório e a falta de vergonha.

Assistir ao embate do presidente norte-americano com o presidente do Banco Central é até divertido. Porque nos lembra da batalha que Lula precisou travar com o bolsonarista Campos Neto, no nosso próprio Banco Central — enquanto toda a imprensa tradicional, firme e unida, condenava a atitude legítima de um governo eleito, insatisfeito com a condução econômica herdada de uma administração fracassada e derrotada nas urnas.

Agora, com Trump, a história é outra: a mesma imprensa simplesmente informa, sem emitir juízo de valor, sem avaliar, sem opinar — apenas repete as palavras do presidente norte-americano. E tudo bem.

Por aqui, foi tratado como um escândalo nacional a simples crítica de Lula ao Banco Central. Como se questionar uma política suicida fosse sinal de autoritarismo. Tinha que engolir calado.

E o exemplo vale para quase toda a política econômica que Trump tenta impor, principalmente no enterro da ordem neoliberal globalizante — aquela que os próprios EUA criaram, sustentaram e promoveram por décadas. Agora, abandonam essa mesma lógica simplesmente porque não serve mais aos seus interesses.

E veja bem: Trump não está errado em querer recuperar a indústria norte-americana, perdida para os países asiáticos durante a era da globalização que eles mesmos fomentaram. O problema está na forma: sem planejamento, sem negociação, na marra, e sem critérios. E quem vai pagar a conta serão os próprios americanos: com inflação e queda da atividade econômica.

Essa instabilidade já provoca reflexos. O FMI acaba de revisar para baixo o crescimento global, sem saber ao certo como ou quanto as novas tarifas vão impactar as economias.

No fundo, Trump legitima com suas palavras críticas históricas da esquerda mundial, que sempre denunciaram o desmonte da indústria local, o desemprego e os efeitos nocivos de abrir mão da proteção à economia nacional. Aqui no Brasil, essa crítica foi varrida da imprensa por anos, especialmente pelo PSDB e seus porta-vozes: a Globo, a GloboNews, a CBN, com seus economistas de um único viés, analistas de uma só visão, editores e jornalistas com a missão de repetir o mantra da globalização. Décadas de um discurso que agora eles mesmos jogam no lixo — e, junto com ele, a relevância do PSDB e da própria Globo.

O PSDB deve anunciar seu fim nas próximas semanas. A Globo, por sua vez, vai definhando a olhos vistos, perdendo espaço para as novas mídias e alternativas de comunicação — inclusive, muitas delas progressistas.

E com isso, a era do jornalismo declaratório vai morrendo. Morre porque muitas vezes se limitou a repetir discursos sem análise. E, quando passou a criticar, perdeu o equilíbrio. A credibilidade se esvai. E já vai tarde.

Há quem diga que entramos na era da “sem-vergonhice”. Se for verdade, devemos à velha imprensa o pioneirismo.

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