Rescaldo preliminar.

Diante de uma avalanche de informações em processo de filtragem e com metade das maiores cidades do Brasil pendentes de decisão em segundo turno, inclino-me a manter a previsão de que, neste país-continente, não se pode exatamente apontar um vencedor nas eleições municipais.

De certa forma, temos alguns vencedores e alguns derrotados. No plural.

A vitória do PSD e também do MDB — sim, ele mesmo, aquele de sempre — se destaca, com o PSD trocando de lugar com o MDB na liderança do número total de prefeituras, deixando o antigo campeão em segundo lugar. Essa mudança fortalece Kassab no nicho que antes era dominado pelo MDB: o de forjar alianças de governabilidade. Ambos continuam a desempenhar esse papel, sem, no entanto, reunir condições de disputar a presidência da república. Isso ocorre porque falta substância a esses agrupamentos, sem identidade clara. O PSD e o MDB, em maior medida, mas também partidos como o Podemos, o PP, o Cidadania, entre outros que compõem o chamado “Centrão”, formam uma espécie de lugar indefinido, um biombo institucional para a política pragmática, focada em interesses particulares variáveis, disponível para negociações, cargos e para dialogar com quem de fato detém o poder.

O PL e o PT são um caso à parte.

O PL conquistou mais de 500 prefeituras e 15,7 milhões de votos. O PT 250 prefeituras com total de 8,9 milhões de votos. Contudo, ambos cresceram, embora com uma distinção importante entre eles. Enquanto PL em capitais e grandes cidades e PT mais homogêneo. PL com muitas candidaturas, PT com números modestos de candidatos.

Antes, é preciso destacar que ainda teremos o segundo turno em metade das maiores cidades do Brasil. Das pouco mais de 100 cidades onde há segundo turno, porque têm mais de 200 mil eleitores, metade ainda não escolheu um vencedor. O PL estará presente em cerca de 20 disputas, e o PT e seus aliados em 15. Dependendo dos resultados, isso pode alterar o cenário. Porém, em parte, o grande palco já está montado.

Concordo com quem enxerga as eleições municipais como distintas das disputas nacionais, mas também devemos observar que algo a mais começou a influenciar as eleições no Brasil — e não é uma coisa boa. Uma gente violenta e incapaz, utilizando escândalos e mentiras, por meio das redes sociais e de uma imprensa acrítica, consegue romper barreiras de comunicação e impor uma agenda que conduz uma tropa de cretinos e cretinas com enorme poder destrutivo e ameaçador. Teremos Abílio, Éder Mauro e Engler disputando o segundo turno, onde devem todos perder, mas o fato de terem chegado até aqui é muito ruim.

É a antipolítica que os conduz, mas uma de destruição — algo ainda em gestação. Acredito que estão no auge; tinham pretensões muito maiores, estão entre os vencedores, mas ainda não têm a força necessária para retomar o cenário nacional, como pretendiam. Inclusive, o plano de alavancar futuras candidaturas ao Senado em 2026 não foi bem-sucedido agora. Estamos falando de cerca de 20% do eleitorado, o que é muito, mas não é majoritário.

O PT vai disputar o segundo turno em 15 cidades, na maioria coligado, mas me parece que não vencerá em muitas delas. Ainda assim, foi, junto com o PL, um dos vitoriosos na eleição, aumentando suas bancadas de vereadores e prefeitos. Há uma distinção importante: o PT está renovando e rejuvenescendo seus eleitos, com muitos dos novos quadros sendo impulsionados pelos velhos caciques, que parecem estar na reta final de suas vitoriosas carreiras.

Vamos acompanhar as decisões importantes do segundo turno que ainda estão pendentes. Além das bancadas de vereadores já definidas — o que nos ajudará a avaliar melhor o resultado —, temos então mais uma referência importante para a análise do pós-eleições municipais.

O que mais chama a atenção e segue como maior preocupação para o futuro é desvendar esses caminhos tortuosos do fascismo, que continuam a superar a razão objetiva e a impor pautas fantasmas, sem uma resposta à altura. Não é um problema exclusivo do Brasil; trata-se de um fenômeno mundial, que ainda evolui de forma perigosa. E esse é o grande desafio, porque, com ou sem Bolsonaro, ele continua.

Ah, o PSDB o grande derrotado, em vias de extinção.

O Republicanos dobrou o número de prefeituras e há quem os veja mais consistentes e orgânicos que os demais partidos de direita. Vamos ver, porque o que eles tem de orgânico tem de divisão interna e tudo para explodir – no mau sentido – no correr dos anos.


2 respostas para “Rescaldo preliminar.”

  1. boa análise. Coincide muito com o que eu estou pensando. Há algo errado nesta frase… “O PL conquistou mais de 500 prefeituras e 1,7 milhões de votos. O PT 250 prefeituras com total de 8,9 milhões de votos. ”

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