Assunto Urgente e Pendente.

Volto ao tema motivado por um artigo do historiador e escritor Guilherme Scalzilli, no JornalGGN do Nasif.

Scalzilli dá a seu texto o título de “O golpe da tentativa”, que resume o que aconteceu no Brasil nos últimos anos e culminou com o 08/01.

Retorno porque, do rescaldo de toda aquela ação e omissão, focando apenas nos fatos do dia 08/01, só alguns cretinos estão presos, chorando e lamentando a má sorte. Eles recebem, por parte dos reais responsáveis, solidariedade, mas do lado de fora das grades.

Havia um bloco coeso que, junto com seu representante político (sem sabermos exatamente quem mandava mais em quem), comandava todas as ações do governo extinto. Inclusive, ocupando milhares de cargos e a vice-presidência. E foi novamente na chapa disputar a eleição, que acabou perdendo.

E perdeu, apesar de todos os abusos, manipulações, ameaças, boicotes e compra de votos que promoveu.

Perdeu por absoluta incompetência administrativa e operacional, que apenas seis meses de um governo decente deixam escancarado, quando apresenta resultados considerados inalcançáveis pela trupe que saiu.

Me refiro aos militares, que pela segunda vez na minha vida, interferem no poder civil do Brasil com os mesmos resultados desastrosos.

A escalada de autoritarismo e violência que estariam promovendo a essa altura, e legitimados pela maioria, se vencessem, não podemos sequer imaginar. Mas nos deixaria em uma posição terrível e comprometeria todas as possibilidades que estamos novamente alcançando.

Felizmente, perderam. E a racionalidade e o equilíbrio mostram o quanto de diferente e para melhor, muito melhor, podem fazer.

Enquanto isso, os militares recolhem a retórica e prometem juras à democracia. E são os mesmos que, seis meses atrás, promoviam arruaças nas portas de quartéis e ameaçavam de todas as formas possíveis, inclusive desrespeitando as urnas e a justiça eleitoral.

Até agora, nenhum deles foi punido. Permanecem nos mesmos lugares e provavelmente fazendo as mesmas conspirações. Discretamente, porém, como convém ao momento adverso que enfrentam.

Mas planejam voltar. Bolsonaro, mesmo antevendo sua prisão, reinicia sua retórica belicista e repete as ameaças anteriores, sem que nenhuma punição ou advertência por parte dos militares caia sobre ele, como é previsto no caso de reformados, como o ex-Capitão.

Concordo com Scalzilli: o golpe foi a tentativa, que nunca houve. Era tudo um circo, cheio de palhaços, quebrando tudo e ameaçando tudo, na expectativa de manietar o novo governo que, de saída, já teria a emergência do socorro de um Decreto de Lei e da Ordem. O que significaria uma ocupação do Distrito Federal por aqueles que estavam promovendo as arruaças.

Não tenho ilusões, sei que o diagnóstico é compartilhado no governo atual, que faz o possível comendo os golpistas pelas bordas. O braço político do grupo está sendo cortado e, embora eles procurem um substituto à altura, a verdade é que ainda não encontraram.

E permanecem em silêncio, supostamente cumprindo suas obrigações.

Não existe uma solução de curto prazo para o problema. São inimigos da democracia, autocratas, elitistas e incompetentes. Não aceitam nada e não querem mudar nada. Qualquer solução virá com enorme resistência e demora.

Então, urge iniciar. Cada dia conta. E ainda não sabemos por onde começar.


Uma resposta para “Assunto Urgente e Pendente.”

Deixar mensagem para Valéria Franco Cancelar resposta