Dez anos passados.

Estava me preparando para escrever sobre as jornadas de junho, aquelas que pretendiam reduzir as passagens de ônibus em São Paulo em 20 centavos.

Mas adianto algumas reflexões.

Eu decidi entrar nas redes sociais em 2013 exatamente para enfrentar o que me parecia artificial e equivocado naquelas imensas manifestações, apesar de perceber o perigo dos protestos, não era possível imaginar que descambariam para o fascismo abertamente.

Todos os sinais estavam lá, nos protestos de todos os equívocos, na ausência dissimulada de líderes, os interesses falsamente difusos, a influência externa omitida, as bandeiras escamoteando a condenação da política .

Para atender um pedido de um amigo li recentemente em uma sentada um livro que compilou todas as matérias da época de forma acrítica, passando por impeachment e depois eleição do Bolsonaro e revivi toda aquela história.

Um martírio relembrar tanta mentira e manipulação por parte da mídia, engajada em destruir o governo.

Percebi como ainda estamos em 2013, reconstruindo caminhos que muitos ingenuamente ajudaram a destruir, comandados por várias mãos e vários interesses, que acabaram capturados inteiramente pela extrema direita.

2013 era uma mentira, de uma geração que vivia num país em crescimento, e que julgavam esse crescimento espontâneo, seguro, e as muitas carências deveriam ser imediatamente superadas, segundo um padrão Fifa, usando o campeonato mundial de futebol de vitrine.

A Lavajato não existiria sem 2013, mesmo sendo cria do Mensalão e nos dias que correm temos que ouvir desculpas do ministro do STF Tofolli pedir desculpas ao ex presidente do PT José Genoino, desculpas porque o condenou sabendo da sua inocência.

Bolsonarismo também não existiria sem 2013 .

Por pouco não arruinaram o Brasil de vez, nessas discussões de hoje sobre meio ambiente, índios, petróleo, progresso e desenvolvimento industrial, se reeleitos os derrotados nas urnas recentemente, sobraria o que dessas pautas?

Nada.

Exatamente o que foi plantado naquelas manifestações, incentivadas por uma mídia engajada na derrota do governo da época, oposição perplexa com a derrota eleitoral, com os países desenvolvidos temendo o progresso dos Brics e do G20.

A cobiça no pre sal recém descoberto

Um alinhamento de interesses contrários aos nossos, que persiste.

Perceba como 2013 não acabou, repito, estamos ainda as voltas com aos mesmos desafios, meio que o tempo parou para nós enquanto o mundo todo continuou.

Mas é verdade que os jovens da época estão 10 anos mais velhos, e passaram a conhecer um Brasil histórico, no sentido das mazelas constantes da fome, desemprego e miséria, que todas as gerações anteriores conheciam e podem agora compreender como nada nesse mundo é natural ou acontece espontaneamente, como as manifestações pareciam sugerir.

Estamos longe da saída desse labirinto de 2013, o mundo conheceu as guerras hibridas , as guerras coloridas , as fake news, a manipulação da informação agora entregue individualizada e de acordo com os maiores temores do freguês, que apavora, paralisa e oferece falsas soluções.

Pode ate ser que 2013 dure para sempre, coisa que pessoalmente duvido, enquanto observo 85% da população jovem do Brasil acima dos 17 anos desistindo de estudar, de ler e de se informar.

E nem era exatamente esse o exército que protestou naquele ano, era mais escolarizado, urbano, com enormes expectativas mas sem discernimento suficiente para encarar o engano em que jogaram nossos sonhos.

Agora estamos piores, a negação da política é a política levado a seu extremo, entenda quando o atual presidente da Câmara diz que não aceitarão retrocessos ideológicos, ele está se referindo a ideologia dos outros, a dele deve prevalecer.

E segundo ele e gentes como ele, o bom seria um Bolsonarismo sem Bolsonaro, um Lulismo sem Lula, para o Lirismo com Lira mandar e desmandar livremente, abraçado aos maiores juros do mundo e um mercado funcionando para 50% da população.

Mirando o progresso, 2013 acertou no atraso.

Que sirva de lição e que seja superado breve.


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