Vale quanto pesa.

Foto por Ketut Subiyanto em Pexels.com

A primeira vez que ouvi falar em compra de voto de deputado para aprovar alguma coisa na Câmara, foi na emenda para reeleição do Fernando Henrique Cardoso, na época R$ 200 mil por voto.

Uma pechincha.

Depois dessa passei a observar esse escambo com relativa atenção, mas não era ainda um acontecimento rotineiro da relação entre os poderes .

Alguém explica que essa inclinação do parlamento por avançar no orçamento da união vem da dubiedade da nossa constituição, meio que pensada para funcionar num regime parlamentarista que não vingou, barrado no plebiscito antes da sua promulgação.

O fato é que o parlamento de lá para cá, desde a nova Constituição, vem amadurecendo seu apetite e esquemas, lícidos e ilícidos, aprimorados ao requinte nesses últimos anos de continuadas crises.

O advento Michel Temer, precedido do cataclisma Cunha, inaugurou o assalto, em todos os sentidos, do orçamento pelo legislativo, Câmara e Senado.

A sequência atual, que vem da administração anterior, de Arthur Lira e Pacheco, esse segundo discretamente, escalou níveis inéditos e capturou, em vários sentidos, o orçamento.

Estamos falando em R$ 50 bilhões de Reais anuais.

O governo Lula depois de assumir e aceitar compor a maioria reelegendo a dupla Lira e Pacheco, foi aos poucos reassumindo o controle do erário, negociando liberar emendas retidas no governo passado nas regras anteriores e delegando ao Ministro Padilha a responsabilidade na negociação da liberação de dinheiro para as emendas futuras.

Não digo que isso funcionou, nem que não.

O Ministro tem sido solícito nas conversas educadas que trava, testemunham os envolvidos nessas tratativas, mas a boca torta acostumada ao cachimbo tem dificuldade de tragar cigarro de palha.

O que provoca ruídos, digamos assim.

Muito negativo nessa imposição é também a aplicação paroquial dos recursos, um investimento relevante direcionado para algum efeito duradouro as vezes perde para pequenas obras distribuídas Brasil afora, na soma dos valores pulverizados temos números próximos ou iguais ao total disponível para os grandes investimentos.

Essa história conhecida, com roteiro decorado por gerações de líderes partidários e governantes, acaba sempre na mesa da partilha , quando a divisão do bolo relativamente equilibrada permite aos projetos e interesses de quem governa prosperar, como por exemplo a discussão sobre a nova âncora fiscal já no Congresso para apreciação e promessas de rápida aprovação.

E, entre nós, está errado por completo essa pratica?

Talvez nem seja essa a questão, de um julgamento geral sobre a pratica em si, porque se mistura alhos e bugalhos, incentiva a política miúda e pouco transparente, passível de corrupção e desvios, e é tudo verdade, mas inda é o que funciona e dá ao governo as condições de caminhar.

E não percebo na questão crise entre governo e sua base, ou base mal consolidada, no fundo, fora a base ideológica de uns 130 deputados, os demais, excluídos os quase 100 de ideologia contrária, são a base do governo móvel, digamos assim, que vai funcionar na base dessa troca e que prevejo ser acionada, até pelo custo, nas grandes questões.

Entendo que esse congresso vai dificultar pontos relativamente menores da pauta exatamente para negociar a aprovação dos grandes interesses do governo.

O que precisa funcionar nesse ambiente é a fiscalização, a polícia, os organismos de controle, não é um problema do executivo somente e falando francamente.

E até que algum presidente consiga a vitória eleitoral e a maioria parlamentar, vai ser assim a relação entre os poderes legislativo dividido e o executivo.

Quanto a quando que algum presidente eleito vai conseguir eliminar a prática, vale o dito por Ulysses Guimarães, nosso velho timoneiro da política : não reclame da ruindade do nosso parlamento atual, espere o próximo porque vai ser ainda pior.

Tem sido assim e depois tratamos desse assunto.


2 respostas para “Vale quanto pesa.”

  1. Infelizmente o interesse do congressista, nunca ou quase nunca, está alinhado com o bem da população. Se assim fosse, a prática de venda do voto seria tolerada, embora imoral. Os nossos representantes deveriam executar o papel para o qual foram eleitos e são regiamente pagos.

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