Cuidados com a criminalização da política.

Uma coisa é uma coisa e outra coisa etc.

Acordamos com mais uma operação da PF contra deputados federais envolvidos com roubo de recursos públicos. Não faz sentido chamar de desvios o que é roubo. No caso de hoje, entre uma sequência das últimas semanas, envolve o líder do partido PL, Sóstenes Cavalcante, que, além de tudo, representa a ala dos religiosos evangélicos do fascismo no bolsonarismo. E é o porta-voz, para não dizer o amarra-cachorro, do líder evangélico Silas Malafaia.

Não por acaso deixaram para a véspera do recesso parlamentar mexer nesse vespeiro. Não por acaso divulgaram foto de dinheiro vivo encontrado na residência de Sóstenes: cerca de R$ 500.000,00, o que dispensa explicações.

A investigação tem um ano, iniciou com os auxiliares do deputado Sóstenes, até chegarem à busca e apreensão de hoje.

Então é preciso duas coisas de nossa parte daqui para frente.

Fica claro que todo o apavoro dos deputados nos últimos meses com as investigações do ministro Dino e as notícias de que dezenas de deputados estão sendo investigados por falcatruas na liberação de emendas parlamentares são fundamentados. De fato, motivos para preocupações não faltam e não faltarão.

Outra coisa é adotar uma postura de desconfiança geral nos acontecimentos da política e das instituições.

Vou exemplificar.

A partir da fala do bolsonarista senador Alessandro Vieira, de que um acordo do STF com o governo permitiu a aprovação da dosimetria, desencadeou-se um movimento de revolta contra o governo e contra o ministro Moraes. Mesmo com ambos negando que tenham feito qualquer acordo nesse sentido, a coisa segue. A posição de Jaques Wagner, de admitir acordo para incluir na pauta a votação da dosimetria — e ele votou contra, enquanto Alessandro Vieira votou a favor — não quer dizer que estivessem apoiando a aprovação, como a votação posterior não só confirmou seu voto contrário como mostrou ampla maioria adversária à dosimetria.

O pragmatismo pode custar caro, sem dúvidas, mas em algum momento a dosimetria seria votada no Senado, como foi na Câmara, e, na hipótese de simplesmente ficar na posição de negação, isso não iria resolver nada diante da maioria adversária. E ainda ficaríamos sem os R$ 20 bilhões dos impostos sobre bets e fintechs, que foram aprovados na mesma pauta.

Sobre o futuro da dosimetria, eu já escrevi em posts anteriores. Mas sobre a criminalização da política é sempre bom alertar, porque, como em todas as atividades, existem os bons e os maus. E é sempre importante separar uns dos outros.

No caso do presidente Lula dizer que não teve e não tem acordo para aprovar a dosimetria, eu acredito.

No caso do ministro Moraes dizer que não aceita a dosimetria, eu acredito nele.

Lula vai vetar, o Congresso disse que vai derrubar o veto, e tudo depois vai para o STF decidir.

E essa dosimetria vai morrer.

E a política segue como nossa única maneira de convivência pacífica, onde prestar muita atenção em quem é quem, onde nos colocamos nesse debate e, sobretudo, na nossa crença.


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