
Primeiro vamos colocar as coisas no seu devido lugar. Quando um time ia enfrentar o Santos do Pelé ou a Seleção Brasileira de 1970, a maior preocupação não era a grama, nem a torcida e muito menos o uniforme. Sabia que ia enfrentar os melhores e que a probabilidade era de perder.
Esse é o pensamento da direita brasileira para 2026: sabe que vai perder.
Não adianta os jornais e analistas insistirem que as estratégias da direita erraram aqui e ali, e com os erros o governo recupera seus índices de aprovação — a propósito, crescentes. Na verdade, eles tentam de todas as maneiras superar um adversário superior e arriscam tudo, no que o governo aproveita não porque erraram os adversários, mas porque o governo acerta nas respostas e na condução dos desafios.
Dito isso, vamos observar como andam as movimentações dos adversários nessa ótica — de quem sabe que vai perder porque enfrenta o melhor.
O nome óbvio seria o governador de SP, Tarcísio de Freitas, que, segundo dizem, aguarda ser ungido pelo chefe Bolsonaro para disputar a presidência. E aí começam os dilemas. A estratégia do Bolsonaro copia a de Lula em 2018, e aqui temos uma primeira questão: o PT perdeu feio em 2018 com essa estratégia de inscrever Lula, impedido de concorrer; protelou até receber a negativa oficial do TSE e só depois definiu pela candidatura de Haddad. Foi para perder e perdeu. Então Bolsonaro imita essa estratégia por qual razão? Porque ela manteve Lula protagonista no cenário político e ele não deixou de ser relevante, mesmo nas mais adversas das condições. Então Bolsonaro não quer somente insistir na impossível candidatura, mas no legado — e aí ele sabe que Lula obteve a vitória.
O caso dele é distinto, mas a aposta segue a mesma.
Voltamos ao dilema de Tarcísio: se ele sabe que vai perder se disputar com Lula, e sabe que é favorito para reeleição em SP, o ganho para disputar — e mesmo assim perder para Lula — só faz sentido para ele se fosse para garantir o legado e o comando da direita sem Bolsonaro no futuro. O sacrifício de agora teria que compensar para frente, assumindo a liderança da direita oposicionista brasileira. E vai? Os filhos e mesmo Bolsonaro vão permitir? A resposta claramente é negativa.
O que se impõe a Tarcísio, e daí a sua dúvida, é: para que me serve esse sacrifício?
Para nada, falemos abertamente.
A fragmentação e as brigas internas nos partidos do Centrão, batendo cabeças e cada vez mais divididos nas definições para a disputa em 2026, são a mostra de que sabem estar enfrentando adversário superior, com quem a derrota é quase certa — e não adianta ignorar a realidade. Trata-se da própria sobrevivência política de grupos e indivíduos, eles também mestres na arte da política. De MG para cima, quem se opor ao presidente Lula está correndo sérios riscos de perder a eleição. De MG para baixo, vamos ter disputas duras em quase todos os estados. Esse é o cenário.
Disse aqui em outro post que queria ver Lula eleito no primeiro turno, na sua última disputa. Seria um reconhecimento à sua história — e existe grande probabilidade de acontecer, pela primeira vez para ele.
Agora estão falando na chapa Tarcísio e algum Bolsonaro de vice — falam de Flávio, de Eduardo e de Michelle. Ou seja, qualquer um.
Por um lado, se pretende puxar os votos com o sobrenome, mas — e aí está o ponto — assegurar o legado para a família, mesmo com a derrota. O que, como apontamos, não interessa a Tarcísio.
Para ele, o melhor é assegurar sua reeleição em SP, que também vai cambaleando a cada indecisão dele, e tentar depois em 2030, depois que Pelé aposentou e Tostão lidera a seleção. O que, mais pra frente falaremos, também não é pouca coisa, de jeito nenhum. Mas não enfrentará mais o Pelé — e então a coisa pode mudar.
Dizem que seguimos nesse dilema até o fim do ano, mas o prazo de inscrição dos candidatos é abril e, depois, se o Jair mantiver a estratégia, vamos até o meio do ano que vem na indecisão dos nomes.
Esse é o cenário desenhado, onde a conhecida resistência ao PT assegura 30% dos votos a qualquer opositor — insuficiente para evitar a vitória do petista.
Para as bancadas da direita, esses 30% asseguram a eleição ou reeleição da maioria deles, sobretudo os caciques; daí o fato de não abrirem mão de um cabeça de chave, seja quem for — e sabendo que vai perder. E temos alguns nomes de governadores prontos para o papel, porque não têm mais nada a perder, sem a possibilidade pessoal de reeleição para terceiros mandatos: Caiado, Ratinho, Leite e Zema. Um rol de futuros derrotados, mas dispostos a assumir a oposição ao futuro governo Lula mirando 2030.
Acho que mostrei as razões das dúvidas dos personagens e objetivos. Agora é aguardar para confirmar com os fatos quem vem para o sacrifício, quem disputa legados e quem arrisca tudo para ver o que sobra.
Eu continuo apostando na vitória no primeiro turno do Lula e crescimento das bancadas progressistas.
O grande adversário é o partido da internet, que vai jogar sujo como nunca jogou, e o adversário de sempre, o PIG, que vai tentar emplacar um novo mensalão, uma Lava Jato etc, porque tempo para inventar um novo caçador de marajás eles não têm mais.
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