O futuro do trabalhador e da representação política.

Reproduzo texto de parte da entrevista do presidente do PT Edinho:

Uma parte da classe média vota no PT. Outra parte, historicamente, nunca votou. Onde nós perdemos eleitorado foi nos setores médios das periferias.

Eu penso que existe uma nova classe trabalhadora se formando no Brasil. O processo de modernização que nós vivenciamos a partir do início do século 21, com adoção da robótica e inteligência artificial, tem mudado o mercado de trabalho brasileiro, porque você está mudando a base produtiva. 

As novas tecnologias substituem trabalhadores. Boa parte desses trabalhadores está indo para o setor de serviços e nós não estamos conseguindo dialogar com essa nova classe trabalhadora emergente. 

Do ponto de vista da juventude, há novas profissões que hoje se caracterizam por meio da internet. Um exemplo são os jovens que ficam em home office recortando e impulsionando vídeos para plataformas. 

A gente não consegue nem nominar essas novas profissões porque ainda estão em fase de caracterização e a gente tem dificuldade de dialogar com elas. Outro setor é o moto-entregador. Há quem diga que haja 12 milhões de moto entregadores no Brasil.

BBC News Brasil – Por que o PT, pelo menos aparentemente, não consegue dialogar com essa nova classe trabalhadora?

Edinho – Estamos tendo dificuldade de dialogar com essas novas profissões. O PT, tradicionalmente nasce do trabalhador dentro da fábrica, dos bancos, do comércio, do trabalhador sindicalizado. 

Essas novas profissões, em primeiro lugar, não são sindicalizadas. São muitos trabalhadores que sequer têm vínculo empregatício. Eles se caracterizam como empreendedores. Portanto, eles não têm aquela concepção de trabalho formal com a qual o PT sempre trabalhou. 

O ministro [Luiz] Marinho [do Trabalho], por exemplo, tentou regulamentar a profissão de moto-entregador, criando direitos que eram importantes. Mas a própria categoria rejeitou essa regulamentação. 

O motorista de aplicativo não quer vínculo formal. O moto-entregador não quer vínculo formal. O trabalhador em homeoffice, muitas vezes, não quer o vínculo formal. Nós temos que entender isso. E esse é o esforço que nós estamos fazendo para entender o que efetivamente esse trabalhador quer.

BBC News Brasil – Mas o PT, hoje, entende o que esse trabalhador quer?

Edinho – Isso não é magia. O PT tem que dialogar e interpretar. Não é como num passe de mágica e, de repente, agora, o PT vai entender o que esse trabalhador pensa. 

Nós temos que conversar, dialogar e construir propostas para esses trabalhadores. Eu penso, por exemplo, que uma forma de organização desses trabalhadores é o cooperativismo. É organizá-los como em cooperativas onde eles lutem pelos seus direitos e combatam a superexploração, a precarização, mas sem efetivamente ter o vínculo de trabalho formal. Por meio de cooperativas eles podem ter acesso a linha de crédito facilitada. 

Sou defensor que em vez de nós ficarmos tentando regulamentar da perspectiva da CLT, que a gente comece a dialogar com esse trabalhador dentro dessa nova realidade. Mas isso é um processo. O importante é que o PT tem consciência dessa dificuldade e disposição de diálogo.

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