A tarifa das blusinhas.

É curioso como encaramos a nova onda de tarifas impostas pela administração Trump. Apesar do discurso oficial, quem vai sentir no bolso não são os exportadores estrangeiros — mas o próprio povo americano. Os aumentos absurdos nos custos de importação não vão parar na alfândega. Eles vão direto para as prateleiras dos supermercados.

Na prática, qualquer consumidor nos Estados Unidos que for comprar café, roupas ou itens do dia a dia já na próxima semana, vai perceber a diferença. E, considerando que as novas tarifas atingem praticamente todos os produtos importados pelo maior mercado do mundo, o objetivo de reduzir o déficit comercial recai, em última instância, sobre quem vive lá.

Aqui no Brasil, passamos por algo semelhante recentemente. A chamada “taxa das blusinhas” — decisão do ministro da Fazenda de taxar compras de até 50 dólares feitas em sites estrangeiros — gerou forte reação. A medida foi chamada de tudo, menos de “tarifa”, e ninguém minimizou o impacto nos preços. Ao contrário: ficou claro desde o início que o consumidor final seria o mais prejudicado.

É exatamente esse o ponto. Quando governos impõem impostos pesados sobre produtos de consumo popular, o resultado direto é inflação interna e escassez dos bens mais comuns da rotina. No caso dos EUA, a aposta de Trump vai além da arrecadação: ele quer reverter décadas de desindustrialização provocadas pela agenda neoliberal que enriqueceu a China e outros tigres asiáticos — e deixou seu país mais vulnerável.

Algo parecido tentaram fazer no Brasil, com algum sucesso. Ainda temos empresas públicas estratégicas e nichos industriais que resistiram. Mas a queda da participação da indústria no nosso PIB é histórica e difícil de reverter diante da concorrência chinesa.

Mas isso é outro assunto.

O que me intriga é saber como Trump vai lidar com os próximos meses — e talvez anos — de inflação interna. Será que os EUA conseguirão mesmo impulsionar uma reindustrialização? Tenho minhas dúvidas. Primeiro, porque será preciso atravessar o teste inicial: conviver com preços altos e desabastecimento. E é aí que mora o perigo para a política trumpista.

Sem esquecer que a inflação foi, também, um dos maiores calcanhares de Aquiles de Biden. Ele acabou derrotado por uma soma de fatores — mas o aumento do custo de vida teve papel central.

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