O alvo não é só o Brasil.

Os EUA, através do seu presidente, desferiram ontem seu maior ataque contra o Brasil da história. Em 1964, o apoio inicial ao regime foi escondido, apesar de decisivo. Agora, Trump, alegando déficit comercial inexistente, perseguição política a criminosos, entre outras mentiras, taxa produtos nacionais exportados em 50%, o que passa a ser a maior taxação prevista no mundo.

Não vou perder tempo atribuindo a Bolsonaro a questão; as consequências da decisão passam, sim, por seu nome, mas não os motivos. Que estão na reunião dos Brics promovida no Brasil e no fato de os EUA visarem o elo disponível do grupo para promover ameaças. Há quem diga que não vai cumprir, como fez tantas vezes, mas a afronta em si não pode mais ser esquecida.

Quanto às implicações internas, o grupo Globo, se tenta culpar o governo Lula do ataque, não deixou de incluir Bolsonaro. O mesmo faz o Estadão em editorial, porque viram uma oportunidade para o centro e a terceira via despacharem o bolsonarismo e assumirem o protagonismo político do espaço ocupado pelo ex-presidente.

A carta de Eduardo Bolsonaro, onde propõe a anistia do pai em troca do fim das taxas, é um exemplo único da maior cretinice política da nossa história. Traidor assumido, propondo barganha pela soberania nacional em troca de rasgar a Constituição, é algo inédito. Por inaceitável e impraticável, o PIG acertadamente enxergou a solução: despachar o miliciano e que alguém assuma seu posto.

Até aqui, os principais interessados na vaga preferiram se esconder. Tarcísio de Freitas, sobretudo, pode ser incluído na derrocada do bolsonarismo contratada nessa trama, e sua primeira posição, tentando responsabilizar Lula, mostra o dilema que enfrenta para se posicionar, trair definitivamente seu chefe e assumir a virada da direita brasileira.

Verdade que a direita atual tem enormes dificuldades de assumir um confronto com os EUA, diferentemente até dos generais de 64, que o fizeram em algumas ocasiões.

Que o bolsonarismo suicida com essa tentativa de emparedar a soberania nacional, nenhuma dúvida. Ao tentar solapar a soberania, mostra sua versão mais deletéria e insuportável, até para muitos dos seus pares.

Esperar para ver no que vai dar. As tarifas são, na verdade, o fim das relações comerciais com os EUA, e uma decisão de reciprocidade por parte do Brasil vai escalar o conflito, como Trump avisou na carta.

Se ele vai recuar, veremos. Mas não nos resta nenhuma alternativa senão rechaçar a afronta e buscar internamente responsabilizar e afastar os causadores desse ataque, como lesas-pátrias e traidores.

Quanto aos Brics, uma oportunidade de negócios está escancarada, mas com o Brasil em posição de fragilidade.

O câmbio, que vinha declinando, disparou e pode comprometer o penoso ciclo de queda dos últimos meses, provocando subida da inflação. Os produtos atingidos podem tentar buscar mercado interno, com eventuais quedas de preços, mas nunca é bom nessas circunstâncias, pela insegurança e queda dos negócios.

Entramos em uma nova etapa, talvez inédita.


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