
Uma breve retrospectiva:
- Anunciando a necessidade de ajustes para cumprir a meta fiscal de déficit zero no ano, Haddad fez cortes na despesa em 30 bilhões e mais um pacote de novas alíquotas de IOF, sem muita negociação com o Congresso e para arrecadar mais 20 bilhões.
- A gritaria veio pesada, mas muitas horas de negociação foram gastas, incluindo o presidente Lula, quando a possibilidade de acordo foi anunciada, com ressalvas.
- Haddad chegou a comparecer na Câmara para debater o novo pacote em uma sessão tumultuada que obrigou o ministro a se retirar antes do fim, e depois disso não quis mais papo com ninguém do Congresso, tirou uns dias de férias e só defendeu suas medidas na imprensa.
- Ontem à noite, sem prévia comunicação e sem debates, Câmara e Senado rejeitam o pacote de medidas do IOF.
O roteiro dos últimos dias me lembrou a discussão da desoneração da folha de pagamento de pessoal de alguns setores, com o Congresso defendendo e o governo tentando acabar com a prática. Na ocasião, o governo não aceitou a derrota e conseguiu reverter em parte o prejuízo, sem levar o debate para a opinião pública, tentou e resolveu com argumentos fiscais.
Dessa vez não agiu assim e foi para a praça pública mostrar os interesses que estão em jogo e de onde e quem paga a conta do sustento da máquina pública.
O Congresso deu a partida, invocando o corte de gastos. E isso no mesmo dia em que autoriza mais vagas para deputados e acúmulo de salários e aposentadorias dos congressistas. O governo não recuou, mostrando que o discurso de cortes de gastos, na verdade, esconde a proteção dos ricos e investidores do mercado financeiro, em detrimento de aposentados e do salário mínimo, o verdadeiro alvo quando falam em corte de gastos. Além da desvinculação dos gastos de educação e saúde, que eu não descarto, mas que precisaria ser debatida de maneira oposta da prática usual e deve ser deixada mais para o próximo mandato do presidente Lula — embora ninguém admita e nem deveria por agora.
O que concluímos é que estamos diante dos programas de governo que serão debatidos na próxima eleição. Enquanto uns falam em cortar gastos para defender os ricos, o outro lado vai falar em cobrar dos ricos para preservar as despesas sociais e os investimentos.
E o eleitor que escolha o vencedor.
Outra semelhança que vejo nesse debate é com o segundo mandato da presidente Dilma, quando empacou e passou a ser atacada pelo Congresso exatamente quando o conflito distributivo chegou nesse ponto de avançar sobre a renda dos mais ricos ou recuar e cortar dos mais pobres. Na ocasião sabemos quem venceu: derrubaram a Dilma e passaram a promover mais uma rodada de concentração de renda e empobrecimento. E estamos no mesmo ponto com duas diferenças: o presidente Lula no comando e um certo aprendizado de parte do andar de cima sobre o custo alto de golpes que derrubam presidentes e depois elegem fascistas.
E repito: o eleitor então vai decidir quem leva o orçamento, para onde e para quem. 2026 começou.
É bom observar que ontem foram aprovados R$ 15 bilhões do fundo do pré-sal para o Minha Casa Minha Vida e o consignado para empregados do setor privado, que pode injetar mais R$ 20 bilhões na economia, no mínimo. Então nem tudo foi ruim, o sentido da coisa é o debate distributivo e quem paga, não esqueça disso. A máquina não para, de onde sai o dinheiro é a questão.
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