Talvez pudéssemos sempre chamar assim as lideranças do nosso Congresso: dirigentes sindicais de interesse próprio em primeiro lugar e de todo o resto em segundo.
Não estou sendo injusto, porque o pensamento dominante na política é a sobrevivência; mesmo os melhores precisam manter seu lugar nas disputas eleitorais periódicas para seguir fazendo seu trabalho.
Me peguei pensando nisso nesses dias, porque, se a atuação de Lira e seu antecessor, o malfadado Eduardo Cunha, não deixavam dúvidas sobre suas intenções, o início de Motta segue na mesma direção. Sim, sem dúvidas ele procura distender a relação com o governo, evitar o confronto puro e simples, como estávamos nos acostumando a ver. Mas primeiro grita e depois conversa.
No Senado, a coisa anda semelhante. Alcolumbre segue seu estilo conhecido, e que Pacheco manteve.
Estamos falando tudo isso em função da discussão do IOF, quando as manifestações de Motta e Alcolumbre sugeriam um rompimento e medidas contrárias implacáveis. Aos poucos, a retórica — que servia para marcar posição e agradar a base sindical (no caso, os deputados e senadores das casas) — vai cedendo espaço para a negociação, e podemos esperar um acordo nos próximos dias.
Haddad não precisa necessariamente do IOF; necessita de R$ 20 bilhões para recompor o caixa e cumprir a meta fiscal. De onde vai sair o dinheiro é que estamos descobrindo.
Eu penso que o IOF de 2025 se mantém na base desejada e nas condições do decreto que provocou toda essa reação. Me parece que para 2026 é que a coisa não se sustenta, com o governo e o Congresso ou solucionando por agora, ou deixando mais à frente, serenados os ânimos e mantidas as condições para a meta do ano.
Vida que segue.