Invadir e conquistar.

Esqueça as 12 tribos, o povo de Israel — o de 3 mil anos atrás e não o atual — foi formado por cananeus, abraamitas e tribos árabes, no processo natural e comum a todos os povos do mundo: miscigenados.

No período identificado pelo reinado de Salomão, atribuem domínio territorial que mais ou menos pretendem atualmente reconstituir, ignorando que a faixa litorânea dos filisteus, que hoje conhecemos como Palestina, nunca foi parte desse território mítico.

Mas seguimos na história.

O território pós-Salomão foi dividido em dois, com Israel ao norte e Judéia ao sul. Com a invasão de Israel pela Babilônia e a consequente destruição do chamado Reino do Norte, um grande contingente fugiu para o sul, na Judéia, dando início a um grande amálgama de tradições religiosas distintas que foram devidamente fundidas no Antigo Testamento, sem apagar os vestígios desse processo inteiramente — apesar das tentativas.

Mas Babilônia cai para os Persas e, dessa vez, a Judéia foi conquistada e sua elite política, econômica e religiosa levada para o exílio. O retorno, décadas depois, trouxe consigo as ideias que encerraram o período dos reis e inauguraram o domínio dos sacerdotes, que concentraram a prática religiosa no Templo de Jerusalém, dominaram os camponeses e implantaram o monoteísmo que, até então, não existia nem por lá e nem em lugar nenhum.

Depois vieram os gregos, e depois os romanos, os mestres no tempo da aparição de Jesus.

A destruição de Jerusalém pelos romanos, em 135 d.C., não foi um novo êxodo, em hipótese nenhuma. Atingiu somente a cidade-estado de Jerusalém e seu foco político rebelde situado no Templo. A Judéia como um todo não foi afetada e o êxodo judeu absoluto jamais ocorreu. E nem poderia, dadas as limitações da época.

Imagine atualmente a quantidade de bombas que Israel joga sobre os palestinos — e sua imensa maioria permanece no local.

Carroças de refugiados fugindo da destruição não poderiam, no ano de 135, fazer um serviço sequer próximo do atual. E mesmo assim, os palestinos ainda estão lá.

A formação do atual povo de Israel e a criação do pais — onde nem todos são judeus, que é uma classificação de religião e não de etnia — remonta ao pós-Segunda Guerra Mundial, e é uma soma de poloneses, alemães, russos e outros da mesma região, atingidos pela destruição da Segunda Guerra.

Então, de forma resumida, tento mostrar que os palestinos que estão sendo destruídos são, na realidade, o povo que permaneceu na região nos últimos milênios — evidentemente no mesmo padrão de miscigenação ao longo de sua história.

Mas, comparados com os que se dizem herdeiros da terra, são infinitamente mais autênticos — até fisicamente — do que estrangeiros loiros recém-chegados do norte da Europa, fugindo da miséria.

A tragédia da Palestina atual é uma farsa moderna e um ode à hipocrisia humana, encoberta por mentiras messiânicas aproveitadas por interesses seculares e políticos — inclusive por pessoas que não acreditam em um milímetro dessas promessas bíblicas ou da Torá.

Não tenho um objetivo com esse texto, só faço um apanhado de memória para quem quiser aprofundar.

Quanto aos palestinos, não tenho mais nem palavras, nem lágrimas — e a indignação nada tem resolvido.


Deixe um comentário