Escapando da prisão?

É curioso observar uma certa alegria na cara deslavada do ex-presidente que acaba de sair de uma cirurgia de 12 horas de duração.

Também chama atenção a diferença de estratégias entre a esposa e o filho responsável pelas redes sociais. Enquanto a esposa afirma que Jair ficará na UTI apenas por um dia, o filho diz que não há previsão de alta. E, nesse caso, o filho falou a verdade.

Seguindo a linha do filho, o pai divulgou um vídeo chocante, com detalhes da operação, assumindo mais uma vez o papel da maior vítima de injustiças do mundo.

Enquanto uma tenta vender a imagem do super-homem, o outro mantém a tradicional estratégia da vitimização. Os motivos do filho são evidentes. Os da esposa, salvo por ignorância total, me escapam. Mas o pai é o pai.

A alegria, no entanto, tem endereço certo: daqui em diante, laudos, pareceres e exames não faltarão para afirmar, reafirmar e carimbar que Jair Bolsonaro não pode ficar numa prisão, mas deve cumprir eventual pena em casa. E também não faltarão profissionais dispostos a assinar essas conclusões.

Mas, sinceramente, isso é o de menos. O que importa mesmo são os julgamentos que se aproximam — inéditos e imprescindíveis — envolvendo militares das mais altas patentes e civis, todos acusados de tentativa de golpe de Estado. Isso sim é uma questão fundamental para o nosso presente e para o nosso futuro.

Se Bolsonaro cumprir pena em casa, será, sim, uma frustração. Penso o mesmo. Mas, se for condenado pela tentativa de golpe, junto com os demais réus, já será um marco histórico. Um consolo importante, e uma resposta firme do Estado Democrático de Direito.

Se ele vai para casa ou para a cadeia? Não cabe a mim decidir. Isso é questão para médicos e suas consciências, e para juízes que, ao que tudo indica, não estão para brincadeira.

Fica a lição para todos que pensarem em colocar em risco a sorte deles — e a nossa — com golpes de Estado, atentados e terrorismo.

É esperar para ver


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