PIB em crescimento moderado, inflação sob controle e câmbio maluco: e ai?

Fevereiro mostrou sinais positivos com a recuperação nos índices de crescimento dos setores de serviços e varejo. O primeiro vinha de três quedas mensais seguidas, e o segundo de quatro. A retomada de ambos foi importante — e, para variar, inesperada.

A previsão do governo para o crescimento do PIB em 2025 segue em 2,4%, acima de todas as demais previsões que acompanhei. E isso, mais uma vez, cumprindo a meta fiscal do ano.

Mas uma questão importante vem me incomodando: com o país crescendo num ritmo razoável — dentro dos níveis ideais apontados pelos modelos mais conservadores, para não pressionar a inflação — a discussão sobre os juros altos volta à pauta. O argumento atual é que eles servem para conter a inflação vinda do câmbio, não da demanda interna.

Só que o mercado cambial está completamente alucinado, oscilando de maneira extrema, sem nenhum critério previsível. A política monetária anterior parece ter perdido o efeito. Até mesmo o princípio de prevenção já não faz tanto sentido — estamos diante de um novo tipo de problema, que exige novas respostas.

O aumento dos juros no fim de dezembro até agora teve o claro objetivo de conter o câmbio — o que, por sua vez, provocou aumento no déficit e na dívida pública, que já se aproxima de 80% do PIB. E pior: continua crescendo acima da nossa capacidade de absorção no médio prazo. Ou seja, a trajetória da dívida pública, com os atuais níveis de Selic, é um problema sério e crescente.

A necessidade de juros altos surgiu no contexto de uma inflação cambial. E agora, mais do que nunca, precisamos avaliar se a Selic está surtindo o efeito desejado — e, no momento, certamente não está. Talvez nem venha a surtir. Se for assim, o peso do crescimento da dívida pública passa a ser, na minha opinião, um fator mais relevante que o próprio câmbio.

Está cada vez mais difícil pensar em cenários consistentes quando tudo muda da manhã para a tarde. Se o caos constante virou o novo normal, qual é a saída?

Claro, quem conduz a política monetária precisa agir com cautela e responsabilidade. Mas insistir em velhas fórmulas, sem dialogar com as novas demandas, pode não ser suficiente para assegurar resultados. O câmbio voltou a ficar descontrolado, mesmo com uma Selic altíssima. A dívida pública segue uma trajetória insustentável. O resultado: uma política de combate à inflação ineficaz — a um custo insuportável.

Se não estamos diante de um novo mundo, no mínimo enfrentamos uma crise longa, de duração incerta. E as respostas não podem continuar sendo sempre as mesmas.

É urgente abrir o debate. Pensar. Discutir. Gerar ideias. Não necessariamente para aplicá-las imediatamente, mas para preparar saídas para um momento que pode se prolongar e comprometer todo o esforço feito até agora.

(Sem contar que ninguém parece considerar nos cálculos a indexação ainda presente em muitos contratos, taxas e impostos — uma herança que o Brasil ainda carrega e que precisa ser enfrentada para nos livrarmos, de fato, da inflação.)

Mãos à obra

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