
É verdade que toda tentativa fracassada de golpe de estado é uma trapalhada. E não foi diferente dessa vez no Brasil, onde cada revelação dos tratos e planejamentos, assistidos em retrospectiva e na perspectiva de inquéritos policiais, onde podemos conhecer as armações de todos os envolvidos através das próprias palavras em áudios e prints das conversa, só faz confirmar o ridículo e patético de seus autores .
Mas vamos também entendendo melhor a quantidade de envolvidos, seus altos cargos e posições na estrutura militar e civil eleita ou indicados, e o quanto eles estiveram próximos de obter a vitória .
Porque houve empenho de anos, planejamento de anos, gente disposta em conseguir destruir a nossa democracia e impor – novamente – um regime autoritário à força.
O general Mourão a quem se atribui o estopim do golpe de 1964 ficou conhecido por “ vaca fardada”, saiu para as estradas com seus tanques e tropas no dia 1º de abril ( que depois mudaram para 31 de março por motivos óbvios) e a sua loucura desprezada por ridícula, inaugurou as trevas de décadas no nosso Brasil.
E dessa vez não foi diferente, com os cretinos nas portas do quartéis e as cabeleireiras manchando estátuas com batom.
Mas eles tentaram e agora quando relembramos, como a tendência de destacar o ridículo prevalece porque vencemos, e nosso temor é dissolvido no desprezo aos golpistas vencidos, e ao nosso estilo, o humor faz parte cultural do processo de consciência.
Não é o caso de entender ou explicar pormenores da cultura ou psicologia nacional, mas não afastar o significado dos fatos que vamos expurgando enquanto revisamos tudo nos julgamentos de dezenas de chefes, generais e ex presidente que vamos acompanhar nas próximas semanas.
Se sorrir faz parte do nosso estilo, mais que tudo é importante compreender e situar os fatos em sua importância e cuidar de bem saber como chegamos onde chegamos.
Não foi por pouco, faltou aos golpistas quase tudo, mas também não foi nada. Uma tentativa perigosa e contundente, fracassada , mas relevante e tentar sempre prevenir e cuidar para outras não irrompam é também a tarefa do momento.
Condenar os generais é tão importante, se não ainda mais, quanto condenar Bolsonaro e os civis envolvidos, de forma a deixar um sinal para o futuro de que não pode ser ultrapassado os limites impostos pela democracia e o jogo da política, onde a vitória eleitoral é o único acesso ao poder que deve ser aceito .
Condenar os generais e deixar um legado que as gerações anteriores não lograram deixar.
É o fecho da geração de 64 golpeada. É a volta do cipó de aroeira.