Obstrução na Câmara e a falta de votos para a anistia.

Antes da eleição dos atuais presidentes das casas legislativas, Hugo Motta e Davi Alcolumbre, substituindo Lira e Pacheco, o partido do ex-presidente (PL) impôs uma condição explícita — ao menos publicamente — para apoiar a nova composição: colocar em votação a anistia aos golpistas.

O compromisso assumido, porém, não era garantir a aprovação da medida, mas apenas levá-la a plenário para que a oposição tentasse reunir os votos necessários. Esse acordo era mais evidente na Câmara do que no Senado, onde Alcolumbre pareceu manter maior distância desse tema.

Claro que estamos falando do que veio a público — o que se discute nos bastidores, ninguém sabe ao certo.

A oposição pretendia realizar a votação ainda sob o comando de Lira, antes da eleição do novo presidente da Câmara, mas não conseguiu. Para ganhar tempo, driblar a pressão e, ao mesmo tempo, assegurar votos para seu candidato, Lira criou uma comissão para “discutir” a anistia antes de qualquer encaminhamento ao plenário.

A estratégia era evidente: postergar a decisão, ganhar tempo e aparentar uma solução. Ou, simplesmente, não havia votos suficientes para aprovar a medida, e a comissão serviu para manter as aparências e facilitar a eleição de Motta. Mas a comissão nunca foi criada.

Com a proximidade do julgamento que tornaria Bolsonaro e seus principais assessores réus, a oposição voltou à carga e passou a pressionar para que a anistia dos golpistas fosse votada.

Motta, que estava em viagem com o presidente Lula na Ásia, não deu sinais de apoio à proposta. Durante a semana, voltou-se a falar na possibilidade de criar a tal comissão, e tudo ficou à espera do retorno do presidente da Câmara na próxima semana.

Para aumentar a pressão, o PL anunciou ontem (quinta)que entrará em obstrução, dificultando os trabalhos na Casa ao esvaziar o quórum e exigir maior mobilização para aprovação de projetos. No entanto, com cerca de 90 deputados e, no máximo, 130 contando apoios de outros partidos ( há quem afirme 200, longe ainda dos 270 necessários), a legenda não tem força suficiente para paralisar completamente o funcionamento do Congresso.

Assim, a semana começa, na virada de abril, com algumas possibilidades para o semestre:

  1. Os trabalhos na Câmara podem se tornar mais difíceis, o que pode resultar no isolamento definitivo do grupo bolsonarista — um desfecho nada ruim.
  2. Será interessante observar o comportamento dos partidos que orbitam o bolsonarismo. Pensando na própria sobrevivência e acompanhando a evolução do processo no STF, a fidelidade ao ex-presidente pode se enfraquecer, principalmente com a troca de acusações entre os próprios membros da organização.
  3. No STF, a anistia não passa. O discurso para a plateia está ficando cada vez menos viável, à medida que novas denúncias surgem na imprensa e pode surgir uma delação premiada entre os envolvidos. A condenação do líder do movimento, ao fim desse processo, parece cada vez mais certa.

Observe que não incluo a aprovação da anistia nas minhas possibilidades.

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