
A Primeira Reunião do Ano no Banco Central: Expectativas e Contexto Econômico
Começa hoje a primeira reunião do ano do Banco Central, também a primeira sob a liderança de uma maioria de diretores escolhidos pelo atual governo, incluindo o presidente da instituição.
A expectativa geral é unânime: um aumento de 1% na taxa Selic, a ser anunciado nesta quarta-feira, ao término da reunião. Essa previsão já havia sido sinalizada na reunião anterior, ainda sob o comando de Campos Neto, com a maioria dos diretores nomeados pelo governo anterior.
No entanto, o cenário mudou significativamente desde dezembro. Apesar do curto intervalo entre as reuniões – um período insuficiente para decisões de política econômica –, algumas mudanças globais começaram a se consolidar, especialmente após o início do governo Trump, que provocou instabilidades consideráveis na economia mundial.
Na reunião de dezembro, com um clima de retórica sobre um suposto “desequilíbrio fiscal”, projetou-se uma sequência de três aumentos na Selic: o primeiro implementado em dezembro, o segundo aguardado agora, em janeiro, e o terceiro, previsto para março. Porém, o alardeado desequilíbrio fiscal perdeu relevância, e a narrativa atual foca em “descontrole inflacionário”. Assim como a narrativa anterior, essa também parece exagerada diante dos dados recentes.
Sinais Econômicos
Apesar da necessidade de decisões prudentes e ancoradas em análises de longo prazo, os dados mais recentes indicam que a inflação está em queda, não em alta – muito menos de forma relevante:
- O IPCA-15 mais recente foi de 0,11%, o menor índice registrado em 30 anos.
- Trump, ao assumir, pressionou pelo aumento da produção de petróleo nos EUA e por ações que levem à queda do preço dos combustíveis globais.
- Os preços de commodities globais têm caído, possivelmente influenciados por ameaças de tarifas e incertezas no comércio internacional.
- O dólar – um dos principais fatores de pressão inflacionária recente no Brasil – tem mostrado um movimento de desvalorização nas últimas semanas.
Além disso, Trump exigiu que o Federal Reserve (FED) dos EUA comece a reduzir as taxas de juros de forma imediata e sugeriu que bancos centrais ao redor do mundo façam o mesmo.
Dessa forma, das principais variáveis que influenciam a inflação, resta avaliar a atividade econômica atual no Brasil, que não parece estar pressionando: há indicações de desaceleração, embora ainda seja necessário confirmar o tamanho desse impacto.
Próximos Passos
É altamente provável que o aumento de 1% na Selic seja anunciado amanhã. Essa decisão já foi amplamente precificada pelo mercado, como dizem os economistas. Contudo, para a reunião de março, mesmo com o anúncio anterior de novos ajustes, parece cada vez mais improvável que outro aumento seja realizado.
O mundo está em meio a transformações significativas, e o contexto brasileiro reflete isso. A valorização do dólar, por exemplo, só deve ocorrer caso Trump adote políticas de juros altos ou implemente as ameaças de tarifas mais elevadas. Contudo, as chances de alta nos juros nos EUA são baixas, enquanto as ameaças tarifárias cada vez mais parecem retórica inflamada para abrir negociações – um estilo típico de Trump.
Em dezembro, a cautela podia justificar um aumento de juros e a projeção de novos ajustes. Hoje, o cenário é bem diferente. Mais prudente seria a moderação na condução da política monetária, preservando um ambiente favorável para a economia e evitando que juros elevados comprometam a trajetória fiscal e da dívida pública.
O desafio está posto. Aguardemos, então, o anúncio da decisão e, principalmente, a ata da reunião, que definirá os rumos do Banco Central daqui em diante.
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