Sem passaporte.

Era previsível a negativa. A exigência de um convite oficial, embora burocrática, acabou por revelar mais uma falsificação grotesca. Foi apresentado um convite obtido em uma página aberta na internet – algo semelhante a um registro geral de intenções de apoio – e não uma autorização formal para comparecer ao evento da plutocracia mundial.

Agora, com a orientação da PGR para não devolver o passaporte do ex-presidente – sob o argumento de que não há ali nenhum “interesse público” que justifique tal medida –, o caso segue para decisão do ministro Alexandre de Moraes, que deve acompanhar essa recomendação. Não há razões válidas para liberar o documento, já que os motivos que levaram à apreensão permanecem legítimos. Além disso, o relatório da PGR previsto para o fim de janeiro ou início de fevereiro reforça a necessidade de vigilância sobre Bolsonaro, figura que reiteradamente afirmou que jamais aceitaria uma condenação e prisão.

Embora eu não acredite que este seja um momento de fuga, é fato que Bolsonaro tem meios para sair do país quando quiser. Contudo, parece-lhe mais vantajoso buscar uma saída que imponha ares espetaculares, como um pedido de asilo nos Estados Unidos, junto ao novo presidente, do que fugir discretamente na calada da noite.

De uma forma ou de outra, a resposta da justiça é proporcional aos riscos que essa figura representa. Estamos avançando para virar esta página, embora ainda estejamos longe de nos livrar do impacto da extrema direita, que continua poderosa graças ao uso estratégico e moderno de redes de propagação de mentiras.

Por outro lado, apesar da capacidade de disseminação, a direita parece cada vez menos apta a apresentar um oponente político viável. A disputa principal agora se desloca para o Congresso Nacional, onde os embates na Câmara e no Senado prometem ser ainda mais acirrados.

A esquerda, por sua vez, está começando a melhorar sua atuação no campo digital, mas corre o sério risco de cair no mesmo ridículo em que a direita se especializou. Esses são os ossos do ofício no ambiente polarizado e dinâmico das redes. A longo prazo, podemos vislumbrar a possibilidade de um debate político mais saudável e construtivo, uma vez que a paridade de armas seja alcançada, mas isso exige tempo e maturidade no uso dessas ferramentas.

Mas essa já é uma outra conversa.


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