
Israel, pressionado pela dupla Biden e Trump – que disputam a autoria da iniciativa –, parece prestes a encerrar o massacre contra os indefesos palestinos na Faixa de Gaza.
Neste momento, o gabinete de Netanyahu tenta adiar seu inevitável ocaso, possivelmente consciente do impacto que essas decisões terão para seu futuro político. No entanto, a fragilização da Síria apresenta uma nova oportunidade estratégica. A possibilidade de expandir seus planos de dominação territorial pode estar entre os cálculos de Netanyahu e seu grupo. Um cenário favorável a Israel se desenha, ampliando as chances de consolidarem o poder ao avançar sobre novos territórios além dos já controlados.
Enquanto isso, Biden se despede do cenário político assumindo os créditos pelo fim do conflito, ignorando os 15 meses anteriores em que sua administração foi cúmplice na manutenção das hostilidades. Trump, por outro lado, mantém sua retórica avessa a guerras diretas, optando por conflitos econômicos, sobretudo contra a China. Sua promessa de encerrar a guerra na Ucrânia também reflete uma tentativa de afastar a Rússia da China – embora essa estratégia talvez tenha chegado tarde demais. Paralelamente, o Brasil dá sinais de distanciamento do BRICS, abrindo espaço para Trump colher frutos em áreas inesperadas.
O mundo já se encontra em um cenário de multipolaridade, mas a disputa por protagonismo nesta nova ordem global segue em pleno curso.
Mesmo sendo avesso a conflitos armados, Trump parece inclinado a promover uma corrida armamentista como parte de seu plano industrial. Ao pressionar a OTAN por maiores gastos militares, ele busca incentivar a produção bélica como forma de sustentar empregos e impulsionar a reindustrialização dos EUA. A ideia pode ser funcional no curto prazo, mas o acúmulo de armamentos sem um propósito definido de uso é insustentável. Nesse cenário, o mundo caminha para um fechamento político, com o crescimento dos discursos de ódio e o avanço de líderes e políticas de extrema direita.
No Brasil, a polarização política continua a se aprofundar, com o centro político desaparecendo sem deixar rastros. Paradoxalmente, enxergo no horizonte um possível ressurgimento de um movimento social-democrata, tanto para o país quanto para o PT no período pós-Lula.
O fim do massacre em Gaza, contudo, é a boa notícia deste início de ano. As atrocidades perpetradas por Israel, marcadas de forma indelével na história, não serão esquecidas. Conforme os detalhes sobre esses crimes forem emergindo ao longo das próximas semanas, o impacto sobre a imagem internacional de Israel será profundo. Comparações com o isolamento enfrentado pela África do Sul durante o apartheid são inevitáveis – embora, neste caso, os agravantes sejam ainda mais evidentes.