O convite.

Esperei alguns dias para entender melhor essa história do convite de Trump para Bolsonaro comparecer à sua diplomação como presidente dos Estados Unidos.

O pedido de liberação do passaporte ao STF foi acompanhado de um suposto e-mail enviado para o filho Eduardo, que seria o tal “convite”. No entanto, Alexandre de Moraes rejeitou o documento, argumentando que ele não apresentava procedência oficial, não continha informações básicas como data e horário, e, portanto, não poderia ser considerado um convite legítimo. Ou seja, não era nada além de uma tentativa vazia de fundamentar o pedido.

O prazo para apresentar um convite oficial foi de 72 horas, contadas a partir do sábado, mas tanto Bolsonaro quanto Eduardo já esclareceram que o “convite” é apenas o e-mail apresentado inicialmente e que não há outro documento, nem haverá. Alegaram que estão “esgotados”.

Vale lembrar que os presidentes dos Estados Unidos não costumam receber delegações de outros líderes internacionais em suas cerimônias de diplomação. Essas festas são eventos privados, financiados por bilionários e plutocratas sem qualquer constrangimento em exibir esse privilégio. Isso, por si só, já reforça a ideia de que o suposto convite de Trump soa como mais uma peça de ficção.

Confesso que inicialmente pensei que o advogado de Bolsonaro e sua equipe estivessem blefando, que fosse algum tipo de provocação a Moraes para, no último momento, surgirem com um convite verdadeiro e criarem um espetáculo habitual. Mas não, o pedido foi mesmo ridículo e simplório. E, sinceramente, não parece tratar-se de uma tentativa de fuga. Se Bolsonaro quisesse sair do país, poderia fazê-lo por terra rumo à Argentina, ou em um jatinho particular, sem grandes obstáculos.

Tudo isso parece ser mais um capítulo da sequência interminável de confusões, mentiras, pegadinhas e falsidades que compõem o “pacote completo” da extrema-direita bolsonarista. O que eles ganham com essas atitudes é um mistério, mas o fato é que o nome de Bolsonaro continua reverberando no imaginário de seus apoiadores, mesmo em episódios tão constrangedores.

A tendência é que Moraes negue o pedido de viagem e Bolsonaro permaneça no Brasil, acompanhando a festa plutocrata dos EUA pela televisão. Janeiro já chegou à sua metade e, em breve, a justiça deve começar a traçar o futuro do ex-presidente — um destino bem diferente de festas ou holofotes.

Para piorar, a imprensa internacional, confiando na palavra de Bolsonaro, repercutiu o suposto convite. Mas Trump, até agora, não demonstrou qualquer movimento ou declaração que sustentasse essa versão. O episódio parece caminhar para um desfecho vexatório e melancólico.

Assim, enquanto a pompa e os excessos das cerimônias norte-americanas ilustram o que os plutocratas representam, mais uma mentira e presepada servem como um reflexo fiel de quem foi o ex-presidente brasileiro.


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