Números acomodados.

O cenário atual da economia brasileira parece estar entrando em uma fase de acomodação. Embora nem todos os indicadores sejam positivos, há sinais consistentes de equilíbrio em diversas áreas.

O preço do dólar, por exemplo, continua alto e deve permanecer assim, embora com uma leve tendência de queda. Concordo com a previsão do Focus – algo raro – de que o dólar alcance R$ 6 em 2025. Apesar disso, a inflação está desacelerando, e o impacto negativo do câmbio elevado sobre os preços tem sido gradualmente amortecido. Adicionalmente, o crescimento no nível de empregos e os reajustes salariais seguem um ritmo que acompanha esse movimento geral de estabilização.

Esse é o caminho natural da economia à medida que supera grandes desafios: a tendência é buscar equilíbrio, desde que as condições essenciais de investimento e as acomodações obtidas até agora sejam mantidas.

Há, porém, elementos externos que merecem atenção. Entre eles, destaca-se a perspectiva de políticas instáveis vindas do próximo presidente dos EUA, que historicamente provoca impactos significativos nos mercados globais. Muito do que vimos em relação à alta de juros e à valorização do dólar nos últimos meses foi uma antecipação ao cenário que está por vir. Economias ao redor do mundo têm desvalorizado suas moedas, aguardando novas subidas nos juros americanos.

No Brasil, as projeções para 2024 são animadoras, com expectativas de crescimento do PIB em 3,5%, inflação ligeiramente acima da meta, e o cumprimento do déficit fiscal previsto no arcabouço. Esses números representam conquistas importantes que certos setores insistem em ignorar ou desqualificar para forjar crises inexistentes – e, quem sabe, até criá-las. Contudo, como sempre, a realidade numérica tende a se impor.

Costumo desafiar os críticos com dados concretos. Pergunto: em qual área específica os números atuais estão piores do que os de uma década atrás? A resposta é sempre evasiva ou inexistente. Não à toa, qualquer comparação histórica acaba recaindo nos anos de 2013 e 2014, já que a década subsequente foi marcada por retrocessos imensos, fruto das mesmas políticas defendidas por economistas de crises, analistas do caos, e políticos de quartéis e igrejas, alheios às necessidades reais do país. Sem propostas consistentes ou argumentos sólidos, restam a eles somente falácias e desinformação.

Por fim, é essencial observar o que está acontecendo na Argentina. Mesmo após tantos sacrifícios, os recursos acumulados no final do ano retornam a condições próximas às de um ano atrás, com pouca ou nenhuma melhora. O resultado? Mais dívida, mais empréstimos do FMI e um povo que enfrenta dificuldades cada vez maiores. O diagnóstico sobre a necessidade de ajustar a balança comercial e buscar superávits em dólares está correto, mas os métodos são totalmente equivocados, conduzindo o país para o declínio.

Se olhassem para os vizinhos, aprenderiam como ajustar suas economias. No entanto, optam por fazer tudo ao contrário, colhendo os resultados esperados de políticas mal orientadas. O que nos resta é observar até onde isso irá.


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