
Atingimos o que os jornais insistem em repetir como o maior valor do dólar desde o Plano Real. Em post anterior, expliquei a sandice de comparar cotações sem considerar a atualização inflacionária. O dólar, ajustado ao longo do tempo, já chegou a valer mais de R$ 8,40. Ainda assim, persistem nessa cretinice para estimular o pessimismo.
De fato, a pregação do bolsonarista Campos Neto, somada à mudança na presidência dos EUA e às ameaças de tarifas astronômicas no comércio global — que devem provocar inflação e aumento de juros por lá —, têm causado turbulência . Basta olhar para a Alemanha, França e Canadá, onde, por motivos distintos, mas todos relacionados a incertezas, os governos têm balançado.
Por aqui, na ausência de crises, inventam. A tal “crise fiscal” simplesmente não existe: o arcabouço fiscal previsto para 2024 será cumprido, e as projeções para 2025 e 2026 seguem a mesma trajetória. O que está sendo usado como justificativa é a dívida bruta, que se retroalimenta com aumentos consecutivos de juros.
O fim de ano, como sabemos, é sempre marcado por envio de bilhões para as matrizes, manobras para esconder patrimônio do fisco e especulações típicas do período pré-férias. Como o atual Banco Central é parte do problema, e não da solução, continuamos reféns dessa instabilidade.
Com a chegada de janeiro, a passividade do BC — algo sobre o qual já manifestei — parece cada vez menos provável. A aposta contra o real se torna uma ameaça real e, mesmo a contragosto, alguma ação precisará ser tomada.
Eu defendo a adoção de uma banda cambial atrelada ao superávit comercial, nos moldes da banda da inflação. Isso permitiria uma volatilidade razoável e previsibilidade, além de desestimular a especulação. A banda inflacionária depende de decisão do Conselho Monetário Nacional, que, pelo visto, não tomará nenhuma atitude tão cedo. No entanto, deveria agir rapidamente para que 2025 comece com os pés no chão.
Vai gerar confusão? Vai. Mas, se deixarmos o dólar… livre como está, a confusão vem ainda maior em inflação e desinvestimento. Que, aliás, já começaram.