
Agora é o momento de olhar para frente e fazer a pergunta:
Quem mais sabia dos planos de assassinar o presidente e o vice eleitos? De explodir um ministro do STF?
Quem mais sabia?
Responder a essa questão é fundamental para que a sociedade possa encaminhar propostas para o futuro, organizar o presente e, se necessário, resistir.
Vamos por partes.
Está claro que as Forças Armadas sabiam do golpe. Havia uma ala que trabalhava para que ele acontecesse, da forma e com as consequências que estamos descobrindo. Outra ala, talvez majoritária, sabe como emparedar governos em benefício próprio. Mesmo ciente da movimentação golpista, não agiu, deixando “o barco correr” para ver onde iria parar.
O barco afundou.
E levou consigo parte da ala golpista. Mas os oportunistas que permaneceram, no mínimo, prevaricaram e jogaram no lixo sua única missão constitucional: preservar a pátria sem traí-la.
Agora estamos com essa encrenca nas mãos. Apesar do discurso de “separar o joio do trigo” nas Forças Armadas, o que temos, na prática, é joio e trigo estragado. Sabendo disso, como nunca antes na nossa história, será necessário negociar uma transição para mudar as Forças Armadas. Se não imediatamente, então por meio de um processo transparente e politicamente negociado.
Na minha visão, isso começaria com a imposição de pedágios rigorosos para que militares participem da vida pública. Se desejam fazer política, que escolham uma profissão longe dos quartéis.
Outras questões precisam ser levantadas sobre quem tinha conhecimento dos planos golpistas, especialmente os de assassinatos do presidente Lula, do vice Alckmin e do ministro Moraes.
Primeiramente, as consequências das mortes planejadas levariam Arthur Lira, presidente da Câmara e bolsonarista assumido, ao poder. No entanto, Lira foi um dos primeiros a abandonar o barco em 08/01, ajudando a conter a onda golpista. Ele sabia?
E quanto ao atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, militar de carreira e ex-ministro de Bolsonaro? Ele sabia?
O vice-presidente e general Mourão? O presidente bolsonarista do Banco Central, Campos Neto? Os congressistas da ala radical do bolsonarismo? E os filhos de Bolsonaro?
Uma conspiração desse porte não é feita por poucos. Certamente, esta também não foi.
Todos os envolvidos são traidores da pátria e devem ser tratados como tal.
Cada indiciado é um fio que, ao ser puxado, traz consigo um novelo. Essa história se desenrola indefinidamente, tornando sua condução perigosa e delicada. Apesar de estarmos nas mãos do nosso melhor, a verdade é que a lama vai manchar grupos e pessoas que ainda tentam manter as aparências e se distanciar das consequências.
Está claro que os dois anos de investigação foram conduzidos com toda a calma do mundo. Mas, ao chegar o momento de apontar os culpados, o processo acelera, balança, e pode, eventualmente, sair de controle — algo que não podemos permitir.
Acredito que mais alguns meses serão necessários para a conclusão do que estamos assistindo. O ambiente é pesado, mas as instituições continuam funcionando.
Do ponto de vista político, haverá tentativas de reação, mas sem sucesso significativo. No entanto, o equilíbrio interno do Congresso, especialmente na Câmara, foi abalado. Vamos observar como as coisas evoluem nas próximas semanas. A sucessão chega em boa hora, e Lira pode se retirar do palco para se preservar. Ou seria para se esconder?
Quanto à reforma tributária, como o texto já está no Senado, acredito que será concluído.
Sobre os militares, não podemos perder a oportunidade histórica de reforçar a soberania civil. E, desta vez, sem anistia. É por aí que começa o acerto de contas.