
A Polícia Federal divulgou o inquérito de 221 páginas, no qual descreveu com detalhes uma trama que envolvia vigilância, seguida de sequestro e assassinato, possivelmente violento e com uso de armamento pesado de uso exclusivo das Forças Armadas, contra o ministro Alexandre de Moraes. Também foi relatado o plano de envenenamento do presidente Lula e do vice-presidente Alckmin, seguido de um caos que seria controlado por um “gabinete de crise” para restabelecer a “legalidade e estabilidade institucional”, conforme trecho da investigação.
Trata-se da ilegalidade promovida por eles mesmos.
O parágrafo acima descreve o “plano” atribuído a parte do comando das Forças Armadas, ao ex-presidente Bolsonaro e a seus seguidores.
Diversas outras demonstrações de indigência intelectual, ética, moral e de formação profissional de péssima qualidade são encontradas nos vazamentos da operação Contragolpe, que resultou na prisão de generais e outros militares.
Em outro momento, o general extremista — apontado como um dos mais radicais e preso na operação — conversa com Mauro Cid, ajudante de ordens do ex-presidente, e faz sugestões para convencer Bolsonaro a executar o plano golpista, argumentando que o tempo estava acabando. No entanto, também se queixava de que o TSE monitorava os acampamentos nas portas dos quartéis, o que intimidava e dificultava suas ações. Ou seja, o “todo-poderoso” general mal conseguia lidar com um oficial de justiça.
É verdade que nada soa mais ridículo do que um plano fracassado para derrubar um presidente. Sob essa perspectiva, todas as falas e planejamentos que nunca saíram do papel beiram o ridículo. Mas e se tivessem conseguido?
Mais importante: por que não tentaram de fato?
Minha opinião é que não tentaram porque são covardes. São pusilânimes e preguiçosos, e uma tomada de poder nessas circunstâncias acabaria gerando imenso trabalho para eles. Além disso, colocaria em risco as décadas de privilégios que lhes garantiram altos salários enquanto nada faziam.
Hoje, as Forças Armadas são odiadas pela esquerda (por serem golpistas) e pela direita (por não serem golpistas o suficiente). Raramente estiveram tão fragilizadas politicamente.
O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, tenta estabelecer uma distinção — que, a meu ver, é inexistente — entre o grupo golpista, que ele diz ser minoritário, e o grosso da tropa. Já tratamos desse tema várias vezes, e minha avaliação sobre o papel das Forças Armadas neste e em outros episódios da vida nacional permanece a mesma. O golpe, propriamente dito, parecia mais uma ideia do grupo palaciano, aparentemente minoritário, e talvez tenha sido usado pelo grupo majoritário como ferramenta para espalhar o terror. Assim, as Forças Armadas tentaram manter a imagem de legalistas enquanto preservam todos os privilégios de sua carreira, que, em seu conteúdo e em sua história, são majoritariamente inúteis.
Não sei se algo positivo será extraído do trauma atual. O grupo golpista foi desmantelado, começando pelo ajudante de ordens Mauro Cid, cuja delação falsa levará a anulação de benefícios e a seu retorno à prisão. Os demais integrantes do grupo palaciano seguem o mesmo destino. Vale notar que, com o bolsonarismo cada vez mais isolado, ninguém parece lamentar suas quedas.
O maior perigo, contudo, é deixar essa gente solta. Dois dos militares presos nesta operação estavam no G20, integrando a equipe de segurança dos presidentes mundiais. Enquanto esse grupo — e seus líderes, antigos e novos — não for completamente afastado, não teremos sossego nem segurança. A presença contínua desses “filhotes” da ditadura, inspirados por torturadores e assassinos do passado, é prova disso.
Por fim, vale lembrar a classificação dada por oficiais chineses ao Exército Brasileiro como “o pior do mundo”, após contatos entre as forças. E isso porque eles ainda não sabem da missa a metade.