A vitória de Trump, que se desenha, é incontestável. Os norte-americanos aprofundaram a escolha em um extremista criminoso já conhecido. Na primeira vez, ainda se podia argumentar que era um desconhecido.

Mesmo com sociedades tão divididas, onde as definições de vitória se dão por pequenas diferenças, alguém precisa vencer e acaba levando quase tudo no final.

Quase tudo, pois o poder não é algo absoluto; ele vem acompanhado de disputas e se espalha em instâncias por vezes inacessíveis. Sim, é possível tentar impor políticas específicas, mas isso custa muito trabalho e investimentos. E tempo.

O que Trump simboliza para nós é a direita bolsonarista, o desastre recente que experimentamos. O que ele significa para os seus compatriotas, porém, me parece distinto. A começar pela renovação da promessa de fim das guerras, que foi uma das poucas coisas que ele reafirmou em seu discurso de vitória. Isso não é pouca coisa para os EUA e seu povo, como podemos imaginar. Também não é pouca coisa para nós.

Além disso, a retórica bolsonarista se fortalece, embora sem chances de comoção suficiente para reverter condenações e destinos de golpistas fracassados. Vamos todos virar essa página, inclusive eles, e o cenário futuro permanece na decisão do presidente Lula de tentar a reeleição ou não. O obstáculo da idade permanece – não para os próximos dois anos, certamente, mas para além disso. E vamos tratar muito desse tema daqui em diante.

Agora é esperar o que vem do norte, entendendo que temos muito o que pensar, e a expectativa não é das melhores. O freio de mão na política externa brasileira parecia puxado diante da preocupação com uma vitória de Trump, que agora é realidade. Em certo sentido, estamos posicionados para evitar, desde o início, crises envolvendo os países vizinhos, no que diz respeito à visão dos EUA sobre as questões atuais da Venezuela. Não imagino que tenha sido por acaso a decisão brasileira quanto a reconhecer a vitória de Maduro e o impedir de entrada nos Brics.

No mais, vida que segue.


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