Gleisi Hoffmann

(Vender dólares qdo a cotação sobe é o instrumento clássico dos Bancos Centrais para conter a especulação. O BC de Campos Neto fez 122 intervenções desse tipo no tempo do Bolsonaro. E só duas, ano passado, no governo Lula. Agora responda se o dólar dispara por conta de uma crise fiscal inexistente ou pela sabotagem de Campos Neto?! É criminoso o q estão fazendo com o país.@gleisi)

Observamos anteriormente que a volatilidade da moeda brasileira é uma das maiores do mundo. O real tanto se desvaloriza quanto se valoriza, em resposta aos movimentos internacionais, com quedas vertiginosas e subidas abruptas, muitas vezes sem motivo que não seja especulativo — atendendo a gatilhos de pouca ou nenhuma importância, mas favorecendo interesses voltados para ganhos financeiros na gangorra do mercado.

Quem supõe que um país com superávit comercial externo, como o Brasil, cuja economia se move com 70% da população ganhando dois salários mínimos mensais, onde a indústria, após décadas, começa a se recuperar e onde metade da população vive em subempregos, além dos 30 milhões de MEIs, crescendo a uma taxa de 3% ao ano, está crescendo acima de suas capacidades ou gastando de forma descontrolada e sem critérios, ou não dispõem de reservas suficientes, na verdade, não quer entender ou trabalhar com o cenário em que investimentos trazem bons resultados no futuro. O melhor para todos é que o país cresça cada vez mais.

Mas talvez esse não seja o cenário ideal para alguns, pois, do jeito que está, está ótimo para eles. Quanto mais volátil e especulativo o mercado permanecer, quanto mais picos de altas e baixas ocorrerem sem motivo aparente, quanto mais acuado estiver o governo progressista e desenvolvimentista, melhor. Sim, para alguns poucos, não existe cenário melhor.

E nada disso aconteceria se o nosso Banco Central atuasse no mercado futuro do dólar, que movimenta dezenas de vezes o montante normal das bolsas — algo exclusivo do Brasil — e impedisse os excessos, promovendo o equilíbrio macroeconômico e, sobretudo, combatendo a inflação que, supostamente, o Banco Central deveria conter, enquanto finge fazê-lo ao subir continuamente a taxa Selic, que já está nos maiores patamares históricos sem nenhuma justificativa objetiva para isso.

Sim, Trump quer valorizar o dólar, e até mandou recado ao Fed para não reduzir os juros nos EUA, como já havia iniciado e afirma continuar promovendo. Sim, os mercados globais antecipam cenários e se protegem, movimentando o preço do dólar para lá e para cá. Tudo isso cabe dentro das bandas de variação, jamais na volatilidade exagerada do real, e muito menos na omissão criminosa do nosso Banco Central.

Não por acaso, o atual presidente do Banco Central foi eleito, pela terceira vez seguida, o presidente de banco central do ano. Se eles estivessem do lado de cá, sofrendo com as decisões do banqueiro contador do Santander, duvido que estariam achando graça nos bilhões que desperdiçamos todos os anos.

E não sei se o próximo presidente do Banco Central, já nomeado pelo atual governo, vai melhorar esse cenário desolador. Vai precisar de uma coragem que, até agora, não demonstrou.

Mas, quem sabe? Em breve saberemos. Enquanto isso, dólar a R$6 e a vida segue.


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