O fato de precisarmos retornar agora pela terceira vez para debater o resultado das eleições municipais mostra a dificuldade de entender e quantificar contextos complexos com respostas únicas.
Vou deixar aqui um resultado que fala por si só sobre se o PT deve ou não se deslocar mais para a esquerda:
- O PSOL lançou 210 candidatos a prefeito — elegeu nenhum.
- O PCB lançou 9 — elegeu nenhum.
- O PCO lançou 43 — elegeu nenhum.
- O PSTU lançou 37 — elegeu nenhum.
- A UP lançou 22 — elegeu nenhum.
- O PCdoB lançou 61 — elegeu 19.
- O PT lançou 1.380 — elegeu 252.
Ou seja, a questão não é o PT ir mais para a esquerda. Se incluirmos o PDT nessa lista, ele foi um dos partidos que mais perdeu espaço. Então, na centro-esquerda — ou o lugar que o PDT ocupa — também não há solução.
A verdade é que 93,7% dos prefeitos mais beneficiados com emendas Pix foram reeleitos e, de maneira geral, 80% conseguiram a reeleição.
O PT, conforme vazado na reunião do diretório nacional ontem, convocada exatamente para avaliar os resultados, culpou o governo por priorizar o centro nas disputas.
E foi isso mesmo. Além da inércia própria das eleições municipais, em que mudanças dificilmente ocorrem bruscamente — e 80% conseguem reeleição —, a opção do governo, anunciada desde o início, seria de enfrentar os fascistas. E, nas sobras dos disputadíssimos 20%, cada um ganhou sua parte, mas a extrema direita foi, sim, contida. Esse, ao que me parece, foi o maior objetivo, sempre atrelado à manutenção da base de apoio do governo na Câmara e no Senado, o que acabou sacrificando o PT nas alianças para compor os interesses diversos em disputa.
Um ponto curioso nas análises, de maneira geral, é confundir as alianças de interesses próprios de governança com alianças programáticas. Enquanto as programáticas atrelam projetos comuns e até futuros, as de governança são volúveis e interesseiras. Não há nada de excepcional nisso, e a ambição de todos os partidos é alcançar o poder central, a presidência. Se fazem planos para isso, se tentam, insistem e conspiram, também não é nada excepcional. A questão para todos, inclusive o PT, é ter um candidato viável para não somente disputar, mas vencer. E esse candidato o PT tem: Lula. A presença de Lula condiciona as alianças e os projetos. Nada além da liderança de Lula mantém essa coalizão unida. Quando podem, os partidos tentam seguir sozinhos, ensaiam e se lançam, para saber até onde podem chegar.
E a vida segue.
Com o impedimento de Bolsonaro, eles precisam de outro nome para enfrentar Lula, e não têm. Mantidas as atuais condições econômicas — que prevejo melhorarem —, Lula segue como favorito para a reeleição, caso deseje concorrer. Tarcísio não vai arriscar, digo e repito: do lado de lá, há um deserto de nomes viáveis.
Neste momento, Arthur Lira retirou da CCJ a possibilidade de votação daquele projeto de anistia, que incluía Bolsonaro na tangente. Criou uma comissão, o que significa mandar o assunto para o espaço. Parece-me uma consequência do resultado eleitoral, que enfraqueceu a extrema direita, além da necessidade de compor com o PT para eleger seu sucessor na presidência da Câmara. E terá mais consequências para além da eleição na Câmara, com todos correndo para o centro em 2026, como veremos mais a frente.
Finamente, 80% de prefeitos reeleitos não sinalizam uma população satisfeita? Que as administrações estão aprovadas? E onde mais tiveram emendas PIX foi de 93,7% os reeleitos. O que mostra que nem tudo é roubo sobre emenda, como gostamos de afirmar.