
Não é segredo, apesar da discrição, que o Brasil vetou a entrada da Venezuela nos BRICS, provocando a ira dos venezuelanos — algo previsível — e também dos setores progressistas da América Latina.
De fato, depois da escalada de declarações do Brasil sobre o processo eleitoral no pais vizinho, conselhos duvidosos e alertas, culminando com o não reconhecimento do resultado eleitoral — desde o início, um equívoco —, chegamos ao ponto máximo de barrar o ingresso dos vizinhos nos BRICS. Essa decisão pode vir a ser um grande revés para o Sul Global, que busca alternativas para enfrentar o descontrole econômico do dólar, seu uso como arma e os boicotes e sanções impostos por impérios que ainda controlam a economia global. Ou seja, foi uma decisão muito dura do Brasil, especialmente considerando que Cuba foi aceita. Assim, os critérios de seleção do nosso governo tornam-se ainda mais misteriosos. Sim, a entrada de Cuba é algo de grande importância, um fato de enorme repercussão, embora ainda pouco destacado. Contudo, em relação à participação e contribuição econômica, é inegável que as reservas de petróleo da Venezuela são incomparáveis com os modestos recursos da ilha.
Falta-nos compreender os motivos do veto brasileiro, pois até agora nada foi explicado oficialmente, restando apenas a especulação.
É evidente que o atual governo de Lula deu, ou está dando, uma guinada nas suas relações internacionais. Até o acordo Mercosul-UE, tantas vezes adiado e dado como morto e enterrado, segue como um objetivo reiteradamente anunciado pelo governo. A retirada do embaixador na Nicarágua também deve ser entendida nesse contexto.
Embora ainda seja cedo para afirmar, é possível perceber que Lula se distanciou dos BRICS. Sua ausência forçada na última reunião ilustrou esse afastamento. Nos destaques da imprensa russa sobre as declarações dos líderes que participaram do encontro, não houve menção a nenhuma fala do nosso presidente, que, é preciso reconhecer, foram mais protocolares do que o habitual.
Podemos especular, e eu me inclino a crer que nosso presidente busca manter distância do delicado momento vivido pela Rússia, envolvida em guerra, e das disputas comerciais intensas da China, optando por um pragmatismo fino enquanto aguarda o desfecho dessas disputas. Não que elas acabem um dia, mas talvez superemos a fase mais aguda. Outra atitude que me parece nova foi o alinhamento do Brasil com os EUA, mais evidente durante a crise eleitoral na Venezuela. Desde então, estamos mais próximos das políticas externas dos EUA no que se refere às Américas. No que diz respeito ao apoio à Ucrânia e a Israel, Lula quer manter distância, apesar das pressões.
O que Lula pretende com essa estratégia ainda não está claro. Talvez ele esteja tentando isolar os radicais de ambos os países, já que eles enfrentam eleições indefinidas nas próximas semanas, enquanto nós teremos uma nova rodada daqui a dois anos. Dois anos que serão difíceis, e, se Trump vencer, muito mais desafiadores.
Se essa posição pragmática não for permanente, parece ao menos uma tentativa de reduzir tensões enquanto aguardamos um horizonte menos turbulento. É importante lembrar que isso tem um custo, embora recaia, até o momento, sobre os venezuelanos. Não acredito que o endurecimento vá além do ponto atual, mas isso, a meu ver, depende do resultado eleitoral nos EUA. Se Trump for o vitorioso, Lula parece disposto a manter relações diplomáticas e evitar problemas futuros, mesmo que isso implique sacrificar aliados. Temos algumas semanas pela frente, e o resultado eleitoral nos EUA será decisivo. Muito, ou quase tudo que está ocorrendo, me parece vinculado a essa expectativa.
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