Me acostumei a ler, por anos e anos, o jornalista Mino Carta e sua Carta Capital — que está comemorando 30 anos por esses dias —, sempre reafirmando seu compromisso com os fatos.
Lembrei de Mino porque estamos enfrentando uma avalanche de mentiras, espalhadas pelas redes sociais, que vão muito além da desinformação e manipulação. Trata-se de um projeto cuidadosamente conduzido, mas que não é inédito. A grande mudança atual está em seu alcance, abrangência e disseminação instantânea.
Mentira e manipulação não são coisas novas. Há quem diga que, em certos jornais — quando ainda eram lidos em formato impresso —, a única coisa verdadeira era a data. Todo o resto era manipulação, assessoria de imprensa, propaganda, viés político, ocultação e mentiras.
O jornalista Roberto Marinho, fundador da Globo, costumava dizer que, tão importante quanto noticiar, é não noticiar.
Ao nos depararmos com o bolsonarismo, que repete os métodos fraudulentos desenvolvidos nos EUA e testados, com sucesso, em guerras de manipulação por todo o mundo — iniciadas nas Primaveras Árabes e no Brexit —, fica impossível olhar para o futuro sem preocupação. Com Trump, com o próprio Bolsonaro e sua trupe de desajustados, vemos que, apesar de já conhecermos relativamente bem o cenário, ainda estamos longe de uma resposta eficaz para essa avalanche.
O que tem sido possível fazer é entrar no jogo, desfazendo as mentiras, o que implica em se submeter às pautas impostas pelos falsificadores.
Além disso, há uma certa infantilização na atuação política. Para equilibrar o jogo, há uma exposição excessiva: uma dancinha aqui, um pulinho ali, sorrisos demais. Tudo bem, somos todos humanos e mostrar um pouco mais de si, ainda mais para quem vive uma vida pública, não é algo tão grave. Talvez, mas a impressão que fica é que isso aprofunda a manipulação, em vez de trazer mais transparência.
Os políticos mais jovens lidam melhor com essa situação. Mostram namorados, festas, viagens, casamentos. Promovem-se como quem vende xampu e, aos poucos, vão passando suas mensagens. O inimigo, por sua vez, rosna, mostra os dentes e, eventualmente, morde. E quando morde, faz ainda mais sucesso.
Estamos vivendo um BBB em tempo real, onde cada um disponibiliza as imagens que lhe interessam, e a imprensa acompanha de forma acrítica, sem deixar de manter seu interesse em destacar os aspectos negativos de uns e poupar outros.
E o resultado é este que estamos enfrentando.
Não posso terminar sem lembrar que nosso presidente tem 78 anos e é o favorito para vencer a próxima eleição. Temos sorte por isso, apesar de tudo. Ou talvez porque a realidade ainda consiga encontrar seu caminho até a verdade, e a maioria consiga distinguir o que é melhor para escolher conscientemente?
É o que penso.
Ou será que, no fundo, nada mudou, e aqueles que precisam continuam escolhendo seus próprios interesses com clareza?
A eleição municipal, em sua grande maioria, foi uma escolha paroquial, como quase sempre. As grandes questões nacionais ficaram em segundo plano, como de costume. A quantidade de “cacarecos” aumentou, os políticos estão ficando mais jovens, e há uma nova tendência em concentrar votos em celebridades das redes sociais, e não mais da TV.
As coisas mudam, mas acabam praticamente na mesma.
Porém, está mais perigoso, sem dúvida. Até que nos reacostumemos.