
Na Carta Capital desta semana – cuja leitura recomendo – Gonzaga Belluzzo escreve um artigo sobre a natureza do cálculo da taxa de juros Selic praticado no Brasil. Ele não estendeu, a meu ver, a análise para outros países, embora cite James Galbraith em um contexto temporal distinto.
Não vou reproduzir o artigo, mas o resumo está na citação: “Para o economista James Galbraith, o regime de metas de inflação não passa de xamanismo.” Por extensão, Belluzzo critica a política de juros que pretende impor disciplina.
Belluzzo explica que o regime de metas de inflação funciona como uma espécie de “xamã indutor”, criador de um futuro que se impõe com decisões presentes.
No entanto, ele deixou de abordar a elevação dos juros nos bancos centrais de outros países, que estão de fato enfrentando problemas relacionados à demanda, dificuldades logísticas e o aumento nos preços de commodities provocados pela COVID-19. É importante lembrar que esses países aumentaram seus juros, não exatamente para combater a inflação de custo, mas para lidar com a inflação resultante da expansão monetária necessária para manter as economias líquidas durante as quarentenas, além de financiar despesas públicas excepcionais emitindo títulos atrativos, evitando assim uma crise ainda maior. Movimento que agora invertem, todos reduzindo juros atualmente.
Aqui no Brasil, não tivemos nada disso. Durante a pandemia, nosso governo manteve-se inerte, não financiou quase nada, só comprou vacinas após a CPI e concedeu o auxílio de R$ 600 a contragosto. O Banco Central subia e baixava juros conforme as necessidades de manipulação do câmbio, tentando atrair investimento externo, o que acabou em fracasso. Como explicamos em outras ocasiões.
Esse mesmo Banco Central, que antes agia de acordo com a política econômica do governo anterior, agora parece abraçar o “xamanismo” de boicote, antevendo um futuro com inflação alta e crescente que não se reflete na realidade. Mesmo que os fatos não confirmem suas previsões, o BC muda o foco e ataca a política fiscal, com o apoio da imprensa financeira. De um lado, temos quem busca lucro com aplicações financeiras, e do outro, quem deseja boicotar o atual governo e o crescimento econômico.
Em entrevistas nos EUA, durante a reunião da ONU, Lula lembrou das previsões de mercado e do Banco Central sobre o crescimento do PIB em 2023, que estavam completamente erradas. Previram 0,8%, enquanto o resultado real foi de 2,9%. E, ao que tudo indica, vão errar novamente em 2024, possivelmente em mais de 100%. No entanto, para definir a taxa de juros com base em análises futuras – aí entra o “xamanismo de resultados” – o BC mantém uma atitude arrogante e terrivelmente prejudicial, custando bilhões, quando deveria agir com extrema prudência.
Estamos todos aguardando janeiro, quando, ao que tudo indica, uma mudança na direção do Banco Central poderá finalmente trazer algum alívio na cobrança de juros.
Sei não… para não dizer que duvido.
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