Na ONU, sem tirar os sapatos.

O que nós, brasileiros, estamos começando a perceber, ainda que sem entender inteiramente, é como, aos poucos, a agenda internacional vai entrando em nossas vidas.

E o quanto isso incomoda os acometidos pela incurável “síndrome de vira-lata”, sobretudo aqueles que entendem política externa como sendo apenas Washington, Nova York, Paris e nada mais.

A história da integração latino-americana reflete-se em nossa indiferença quanto aos destinos dos nossos vizinhos de continente. Questões geográficas e distâncias também contribuem, já que nossa presença física entre os países que fazem fronteira conosco é irrisória, mas isso não explica tudo. Assim como entre os povos do continente africano, a política colonial de “dividir para conquistar”, fomentando falsas rivalidades ou até ódios, é fundamental.

Nós, brasileiros, sempre nos imaginamos rivais dos argentinos, recebendo reciprocidade. Dos chilenos, bolivianos e venezuelanos, nada sabíamos. O Uruguai era sinônimo de churrasco, e o Paraguai, de muamba. E nada mais. Do resto do mundo nem preciso falar, com exceção da Europa e dos turistas ricos que poderiam passear por lá, mas sem saber nada além das fofocas sobre os antigos monarcas.

Assim vivíamos até o operário assumir e nos mostrar um mundo diferente, desafiador e convidativo. Para comércio, viagens, parcerias, erros e acertos. O que não existe mais é a indiferença, pois agora também nos procuram e querem saber de nós.

A primeira investida de Lula no Conselho de Segurança da ONU foi, internamente, tratada como piada, assim como praticamente todas as iniciativas do operário. De lá para cá, a história mostra quem tinha razão, pois agora quem pede nossa entrada são potências mundiais e membros do atual conselho. E quem nos impede são aqueles que sempre tentaram frear nosso crescimento.

A diferença é que agora tudo é debatido, não sussurrado. Estamos em todos os lugares, opinando, influenciando, negociando e, cada vez mais, assumindo protagonismo com palavras e gestos. Sim, alguns equivocados.

De repente, o mundo está diante de nós, e estamos apenas começando.


Deixe um comentário