Venezuela.

Com a decisão do Tribunal Superior de Justiça, após conferir as atas dos órgãos eleitorais e confrontá-las com as em posse dos demais candidatos – com exceção do principal opositor, Edmundo, e Corina, que não as forneceram – a Venezuela conclui seu processo eleitoral interno.

Quanto ao reconhecimento internacional, o Ocidente prefere continuar na farsa de nomear presidentes paralelos, e Edmundo nem parece muito inclinado a esse papel.

Sobre a posição do Brasil, permanecemos exigindo a publicação das atas eleitorais. Estamos isolados e perdendo credibilidade, apesar de, nesta altura dos fatos, a decisão brasileira de esperar por Godot acabar favorecendo a Venezuela. No entanto, essa não é uma posição adequada, pois coloca todas as instituições venezuelanas sob suspeita. Continuar exigindo de outro país a publicação de documentos após a decisão de seu corpo de justiça superior torna a posição brasileira ainda pior.

Desde o início, me pareceu que a eleição venezuelana tinha um caráter plebiscitário, um termômetro que oposição e chavismo esperavam usar para medir o pulso do país. A fervura amena após o resultado – e nem afirmo que Maduro venceu numericamente – deixou claro que a insatisfação não teria força suficiente para alterar a composição de poder vigente.

A estratégia do chavismo nem foi, ou é, exclusiva, se foi o caso. Não teria Trump tentado algo parecido nos EUA, ao recusar-se a reconhecer resultados, incitar militares e hordas fascistas às ruas, e ameaçar os órgãos estatais responsáveis pela apuração?

Não foi essa a estratégia do bolsonarismo no Brasil, anos e anos desconhecendo a eficácia das urnas eleitorais, ameaçando com motins e guerras, utilizando militares e aparatos estatais de espionagem? Não tivemos torres de energia derrubadas, a Praça dos Três Poderes em Brasília depredada, todo o comando da PM de Brasília preso? Não tivemos tentativas de abortar a posse administrativa do presidente Lula? Bombas no aeroporto? Barreiras para impedir eleitores nas estradas do Nordeste? O que tentavam, senão desconhecer e suplantar a vontade das urnas?

Ambos, Trump e Bolsonaro, não conseguiram anular os resultados porque lhes faltaram os meios.

O que não parece faltar ao chavismo.

Então, proponho para o futuro o modelo de quem pode mais fica com tudo?

É evidente que não, mas tento mostrar a hipocrisia de isolar o caso venezuelano como algo inédito e próprio do chavismo. Não é, e por pouco não estamos em um regime político autoritário no Brasil e nos EUA.

Por que, sim, o regime chavista é autoritário e perigosamente próximo de militares, além de milícias populares. E, por conta da especificidade do processo venezuelano, não é simples julgar as decisões que os levaram a isso e para onde vão. Falta no nosso continente uma experiência socialista do tipo cubano, atualizada e financiada por petróleo. E, independentemente das vontades alheias, os bloqueios e tentativas sucessivas de intervenção, estão cada vez mais levando a Venezuela a fechar seu regime, e agora penso que decidiram de uma vez acelerar processos nessa direção.

Pensemos na Rússia e na China. Não são democracias, mas regimes conduzidos por processos políticos que desconhecemos e que seriam impossíveis de vingar no nosso país, até onde consigo enxergar. São processos históricos revolucionários próprios, que não constam na nossa história. Sem entrar no mérito do conceito de democracias e autoritarismos, mas de processos históricos próprios, independentes de nossa opinião ou posição.

A Venezuela inaugurou uma nova etapa em seu processo, assim enxergo o resultado. Se vai prosseguir e vingar, não faço ideia, e nem proponho que sigam por esse caminho que escolheram, apenas estou constatando os fatos.

PS.: E o Brasil falou, assim que conclui o Post : publiquem as Atas.


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