É preciso atacar os privilégios ou o Brasil não dará conta das aposentadorias futuras.

Eu copiei o título acima da coluna de hoje de um dos mais renomados analistas de economia conservadores no Brasil, Celso Ming.

Fui atraído pelo surpreendente título, na ilusão de ler uma análise realista que correspondesse à expectativa criada pela chamada.

Nem de longe.

Na matéria, podemos encontrar aquelas projeções de sempre, com números crescentes ano após ano e as estimativas de envelhecimento da população, ingresso de aposentados do tipo BPC — que recebem um salário mínimo — e o aumento do salário mínimo, base do reajuste anual de todas as aposentadorias.

Nada sobre o ingresso de novos trabalhadores no mercado formal, nada sobre o aumento salarial atualmente em curso, nada sobre o crescimento da economia para servir de lastro ao aumento do salário mínimo, sendo esse atrelado ao crescimento PIB e à inflação, como sabemos.

Faz o alarde de sempre e chama de privilégio aposentar-se com 62/65 anos e receber o BPC de um salário mínimo, assim como os reajustes do mesmo.

E não mostra de onde vem o rombo; apenas cita, sem apresentar números, a previdência dos militares, do Judiciário e, em menor proporção, do Legislativo. As regras de tetos salariais não se aplicam para estes, e no caso dos militares, o descompasso entre o que contribuem para a previdência e o que recebem é totalmente desequilibrado, entre outras omissões.

E, para finalizar, falta comparar o que pagamos para todos os aposentados no Brasil e o que pagamos de juros no financiamento da dívida pública. Um levantamento desses números nos últimos 30 anos, por exemplo, mostraria um resultado tão escandaloso que provavelmente estaríamos todos aposentados e ricos com os recursos pagos a especuladores e bancos.

Ou seja, não foi uma análise, mas mais uma distorção da informação e um ataque contra um mínimo de contrapartida aos aposentados brasileiros.

A discussão do envelhecimento da população e as regras de contratação de mão de obra atuais, exigem sempre cuidado e revisões nas projeções do custo da aposentadoria em todo o mundo. Mas sem apontar onde estão os verdadeiros problemas e privilégios, onde está a verdadeira sangria dos recursos públicos e sem assumir responsabilidade social diante dos mais pobres, a discussão é falsa e imprestável. Para não dizer que não é séria ou desonesta.


Deixe um comentário