
Os 30 anos do Plano Real serviram para todos relembrarem os fundamentos do combate à hiperinflação nos países latino-americanos e sua dependência do dólar, numa época sem pré-sal e preços de importação astronômicos e sem contrapartida de exportação, sobretudo dos derivados do petróleo.
Várias tentativas fracassadas até conseguiram amarrar a moeda brasileira ao dólar, que era um dos fundamentos do plano, entre o ajuste fiscal, juros exorbitantes, fim das nossas indústrias e um futuro sem aumento de preços e sem crescimento econômico. FHC sabia e dizia governar para um terço da população, o resto que explodisse em fome e miséria. O que de fato ocorreu.
A reeleição do presidente Lula mudou, mais uma vez, esse cenário desolador. A sorte do Plano Real foi o primeiro governo Lula, que tirou o Brasil do pântano dos juros altos, do crescimento medíocre e da mentalidade neoliberal. Essa mentalidade tenta continuar se impondo, mesmo após mais fracassos da ponte para o futuro do golpe parlamentar e do desgoverno fascista. Um misto de preguiça e incompetência assola o país desde sempre, interrompidos esses períodos de mediocridade pela dinâmica do presidente petista e seu esforço por distribuição de renda e melhoria geral de vida das pessoas.
Mas o horizonte para o dólar não é mais promissor, de reserva de valor incontestável no mundo e única opção referencial entre trocas comerciais das nações. Cada vez mais, aqui e ali, a disposição para enfrentar esse privilégio cresce, desafiando as décadas do domínio da moeda dos EUA no mundo. Vou dispensar as diversas iniciativas em andamento, dos BRICs, da Arábia Saudita abandonando o petrodólar, até a dívida interna americana e seu desespero de refinanciamento de uma dívida impagável a essa altura, que concorrem para o encerramento dessa moeda única e onipresente.
O Brasil enfrenta, nas últimas semanas, um ataque contra sua moeda, apesar dos juros altíssimos, que têm sido a ferramenta para conter esse tipo de especulação. Mas pode ser que o dólar esteja mesmo descontrolado, espremido por dúvidas na condução futura do país norte-americano e eleições próximas. Uma maneira de contermos essa especulação sem sentido, uma vez que todos os quesitos econômicos estão em ordem internamente, seria fixar o valor do câmbio e amenizar essas flutuações descabidas. E nisso, até a vizinha Argentina quebrada consegue fazer.
Acho que está na hora de aproveitar a comemoração dos 30 anos do Plano Real e acabarmos de vez com o tripé econômico de inspiração da época do Plano Real : câmbio flutuante, meta de inflação e objetivo fiscal , que inventaram. Se serviu para ancorar as expectativas, como gostam de afirmar, agora faz o oposto e azucrina nossa economia e estressa, sem nenhuma razão, as nossas empresas importadoras através de variações bruscas do câmbio, além de provocar inflação de importados de preços indexados em dólar.
Chega disso, é hora de câmbio fixo. Melhor, administrado a nosso favor e não contra.
Meta de inflação factível e fiscal administrada, permanecem, e tratamos disso depois.
Quanto a imagem que ilustra o Post, com as diferenças entre câmbio oficial e paralelo da Argentina, não é o exemplo adequado a ser seguido. Mas mostra o quanto o problema aqui no Brasil é superestimado.