Nesta terça-feira, a confirmação da candidatura de Kamala Harris à presidência dos EUA está praticamente garantida. O número de delegados comprometidos com sua indicação supera o mínimo necessário e agora basta formalizar na convenção, que acontece nos próximos dias.
A agitação do fim de semana com o anúncio da desistência de Biden, que segue isolado acometido de COVID, ofuscou a tentativa de assassinato de Trump dias antes, nesse mundo de imagens instantâneas e disseminadas em que vivemos.
Eleições parecem ser cada vez mais sobre indivíduos, cada vez mais sobre personalidades. Quem presta mais atenção pode ouvir muito das ideias dos candidatos e suas propostas, que nem sempre se concretizam, é verdade. Mas o destaque das pesquisas e até opiniões dos chamados analistas e imprensa em geral recai muito sobre quem são os candidatos, muito mais do que pensam e o que representam.
No caso de Trump, não temos muito a descobrir, muito menos o eleitor dos EUA, que sabe tratar-se de um fanfarrão inescrupuloso, aproveitador e agora condenado na justiça por fraude. Além de péssimo ex-presidente, antidemocrata e admirador de fascistas mundo afora, sendo sua única qualidade o fato de não apoiar guerras, o que sua adversária vai continuar apoiando com entusiasmo.
E aqui praticamente esgotamos o que sabemos de Kamala, além de ser uma mulher relativamente associada a pautas progressistas de costumes.
Seu antigo cargo de procuradora é conhecido e de nada serve para quem pretende ser presidente de um país. Basta imaginarmos Deltan Dallagnol disputando o cargo aqui no Brasil com chances de vitória para sabermos o significado da comparação.
Que nem sabemos se é injusta, exatamente porque a discrição e o isolamento de Kamala como vice de Biden, onipresente, impedem maiores considerações sobre a personagem.
Mas ela é do grupo do Obama, do Biden, do partido democrata e talvez isso seja o suficiente para enquadrarmos a candidata no histórico comum e medíocre da política dos norte-americanos.
Sua maior qualidade, até aqui, vai ser a dura campanha que sua experiência de promotora anuncia contra Trump. Ela o chama de abusador sexual, escroque e criminoso, e a campanha mal começou. Diz que sua especialidade em lidar como promotora com esse tipo de criminoso vai lhe permitir enfrentar Trump na disputa. Convenhamos que é muito pouco, embora seja para todos o que mais interessa: derrotar Trump.
Porque o que sair dali vai ser o mesmo de sempre, com uma pitada de modernidade que Biden nunca pôde acrescentar.
Muito pouco, mas é o que temos.
Observo um entusiasmo maior entre as mulheres brasileiras com o anúncio, do que os homens. Vamos ver nos EUA como a coisa avança.