
Desde o arcabouço, tenho percebido uma certa pernada do governo na sua relação com o mercado. O que o governo oferece não é nem de longe o desejo explícito dos abutres.
O arcabouço mesmo, totalmente a contragosto do tal mercado financeiro, nunca foi digerido, porque a leitura é que ele aponta sempre sua bússola para o crescimento da economia, onde terá pleno funcionamento.
Mas as circunstâncias atuais, no que diz respeito às dúvidas fiscais do mundo, sobretudo nos EUA, com o agravante de eleição indefinida – e agora uma provável troca do candidato democrata, embolando a disputa novamente – ecoam aqui no Brasil nesse movimento especulativo, quando estamos vulneráveis e sem um Banco Central atuando para preservar nossa moeda.
O contexto é esse, que passa a exigir uma resposta, nem que seja parcial, para que uma posição proativa do governo substitua a inoperância do Banco Central, que só assiste ao vai e vem do câmbio. O que começa a incomodar, certamente.
Então, a resposta é contingenciar R$15 bilhões no orçamento de 2024 e R$25,9 bilhões no orçamento de 2025, que segundo o ministro Haddad, serão suficientes para garantir o cumprimento das regras fiscais do arcabouço.
Se puxarmos pela memória, estamos nessa conversa há semanas, o que me parece uma protelação sobre o assunto, sabendo que o tempo e a economia, cada vez mais dinâmica, jogam a favor do cumprimento das metas e do orçamento inicialmente proposto.
Mas como o discurso do boicote e ataques especulativos ganham força, e como não temos a defesa institucional eficaz do BC, o jeito é fazer o jogo, mesmo tendo que ouvir que, na verdade, eles – o mercado financeiro – queriam mesmo era um corte de R$70 bilhões e para já.
Seguimos, porque tudo ficou para agosto e o governo aceitou discutir o contingenciamento, mas incluindo as novas regras de desoneração que deverão ser aprovadas também em agosto, no mesmo mês que será apresentado o orçamento de 2025. Uma mão lava a outra, e ninguém impõe nada que não possa ser bem aproveitado. E o momento exige uma resposta, que a tenham, mas tudo dentro dos limites que mantenham o investimento e as obras programadas, e que os favorecidos por decisões controversas e fora da hora sejam chamados também para a mesa de acertos.