E agora? Ganhou?

Enquanto vamos recebendo as informações sobre a tentativa frustrada de assassinato do ex-presidente norte-americano Donald Trump, durante um comício, acompanhamos também as repercussões e tentamos antecipar a influência da quase tragédia nos desdobramentos da campanha presidencial em novembro próximo.

Eleição que já estava envolta em drama ainda não resolvido sobre a senilidade do atual presidente Joe Biden e a discussão sobre sua substituição pelo partido democrata, ao qual pertence há décadas. Nossa opinião sempre foi no sentido de concordar com as limitações e a necessidade de substituição de Biden, mas sempre duvidando que aconteça, porque até onde é possível substituir um presidente em exercício em plena campanha de reeleição?

Não bastasse isso, agora temos essa tentativa de assassinato do republicano por um atirador de 20 anos, segundo consta, também filiado ao partido republicano. Branco, norte-americano de nascença. É bom destacar isso para que a situação não recaia sobre imigrantes ou outras deduções interessadas em efeitos políticos.

Estão lá apurando, a bala quebrou o teleprompter e o estilhaço de vidro machucou a orelha de Trump. Três pessoas foram atingidas por balas perdidas, uma morreu no local e dois feridos hospitalizados.

O atirador foi executado no local.

A comparação com a facada no nosso ex é inevitável, mas vejo alguns desdobramentos semelhantes e outros distintos.

De imediato, a campanha de Biden fica em suspenso para repensar estratégias. Atacar a vítima ferida é impensável no momento. Enquanto a trégua durar, é importante, e depende da ação da campanha republicana que vai vitimizar enquanto endeusa a coragem do candidato. Como Trump já é conhecido, ganha pouco nesse aspecto, diferente da facada que consolidou o nome de Bolsonaro no Brasil. A blindagem de Bolsonaro durou até a vitória no primeiro turno, com cirurgias e recuperação prolongada impedindo a retomada dos ataques, o que o favoreceu enormemente. Dias antes da facada, Bolsonaro teve participação pífia no debate, e a facada evitou a presença em todos os demais sem cobrança.

Trump não foi hospitalizado, mas é vítima. E a reação dos democratas agora depende de qual aspecto a campanha de Trump vai explorar: messiânico, herói, abençoado, corajoso, vítima. Ou todas.

De qualquer modo, alguma vantagem momentânea Trump vai colher. A eleição apertada e com adversário contestado dentro de suas próprias fileiras já era boa para ele, um fato de tamanho impacto o favorece ao menos um pontinho, que pode ser suficiente para a vitória.

Do lado democrata, a pressão por um fato novo e de impacto aumenta sobremaneira, e a questão de substituir Biden fica ainda mais delicada. Fragilizar publicamente sua candidatura nesse momento pode ser fatal; permanecer no atual estado de situação, também.

Não existe uma resposta. Nunca existiu, na verdade.

Mas a quase tragédia pode, sim, ter resolvido a eleição nos EUA, como aconteceu no Brasil. E aqui também o adversário dos fascistas estava fragilizado, com o presidente Lula na cadeia e Haddad assumindo a vaga na reta final de campanha.

Então, para não ficar em cima do muro, a resposta é sim, Trump foi favorecido por mais esse impacto e sua reação destemida ao ataque, a paralisia da campanha do adversário e sua fragilidade sendo discutida no próprio partido. Uma soma poderosa que o favorece para ganhar. Ainda faltam meses e tudo, como vimos, pode acontecer. Mas o quadro hoje é de vitória, apertada, para Donald Trump e, importante, também do seu partido no Congresso.


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