
Para Biden, nada poderia ser mais significativo. Se as condições são distintas, porque não se trata exatamente de unir partidos diferentes como fizeram os franceses para derrotar o fascismo (escrevo antes das eleições que ocorrem hoje, baseado nas boas pesquisas), no caso dos democratas, a união em torno de um candidato crível é o necessário – teoricamente – para reverter a derrota certa em novembro.
No caso, a união do seu partido, desanimado e fracionado com a perspectiva de uma derrota anunciada. É justo dizer que não por um presidente desastroso, ao menos no âmbito interno, Biden fez um bom governo. O desastre externo, as guerras, é uma visão de mundo dos EUA que independe de presidente. E aí, novamente, a força de Trump que rompe com tudo, com a democracia, com a seriedade do cargo, com a verdade e até com esse ímpeto belicista. Ele prefere o comércio, na sua visão de que foi isso, e não as baionetas e bombardeiros, que fizeram os EUA serem o que são.
E na França, quando viram a força do apelo da direita mais radical, no continente onde o fascismo põe tudo a perder por sua desmedida loucura, a jogada de Macron pode dar certo. Mas há quem diga que a mirada dele é para mais à frente, quando daqui a três anos a sua própria sucessão estará em disputa e o pleito de agora, que só elege o primeiro-ministro, foi antecipado por sua vontade tentando ganhar tempo para si, acreditando recuperar popularidade no tempo que lhe falta. Na França, a presidência é distinta dos demais países europeus, com muito mais vigor e poder; praticamente nem falamos do primeiro-ministro, que nos demais europeus é onde identificamos o executivo principal.
Se Macron estiver certo e a chegada ao poder dos fascistas na França for contida, mais uma vez, diga-se, fica o exemplo para Biden e seu partido democrata, tão necessitado de união nessa reta final da eleição próxima em novembro.
Observe que aqui no Brasil a prática de unir forças entre partidos, até de programas e candidatos bem distintos, é uma prática corriqueira. É preciso observar que temos muito mais opções partidárias, tantas que nem existem no mundo opções programáticas ou ideológicas disponíveis nessa quantidade, o que provoca a sobreposição de ideias e uma confusão que o eleitor, na maioria, não quer ou não consegue distinguir. É uma desvantagem que temos e, nesses tempos obscuros, pode ser uma vantagem se bem aproveitada. Como Lula costuma fazer, costurando apoios e construindo maiorias nessa confusão partidária nacional.
As novas regras de funcionamento de partido com cláusulas de barreira de desempenho eleitoral aqui no Brasil, têm melhorado o quadro geral de opções, com aqueles nanicos de aluguel perdendo as condições de sobreviver, e aos poucos vamos diminuindo a quantidade exagerada de partidos. Um número ainda maior do que observamos por aí afora permanece, o que às vezes é uma vantagem, como observei.
Viva a França. Que as pesquisas se confirmem e os fascistas, apesar de crescerem ainda mais, continuem fora do poder maior.