
À luz dos resultados das últimas eleições, estamos vendo a extrema-direita engolindo a direita e o centro democrático, exatamente porque não vê diferença programática e os extremistas estão conseguindo mobilizar os desinteressados na política, ressentidos e fascistas que estavam quietos.
O aumento na participação nas eleições mostra exatamente isso: onde os extremistas estão ganhando espaço, mais pessoas têm comparecido para votar. Talvez motivados pelo temor dos fascistas, algum contingente de democratas desanimados encontrou motivação para comparecer e votar, mas não me parece ainda a reação proporcional e necessária para conter o avanço.
No Brasil, o que chamamos de centro não é centro e nem democrático. É uma massa de interesses que pode se ajustar a qualquer cenário, como tem feito. Mas são eles que perdem espaço para os fascistas, enquanto a esquerda se mantém no seu lugar e ligeiramente recupera espaço. Falando do Brasil, quem está sem perspectiva é o PSDB, acho que o PSB também. O Centrão não trata de perspectivas, mas de sobrevivência, e vai rodando em todos os matizes indefinidamente.
Por aqui, as pautas de direita estão esgotadas. Na véspera da eleição municipal, o presidente Lula começou com entrevistas regionais e diárias e anulou as aparições dos adversários, que estão travados na questão do aborto e, até o momento, sem conseguir emplacar novidades, apesar de insistirem, ou por causa disso.
Até essa improvável confusão no câmbio, que pouco tem a ver com as entrevistas diárias e muito com especulação e juros altos nos EUA, não demoveu Lula de suas entrevistas, que devem ser observadas sob o objetivo de ocupar e estressar a pauta, como tantas vezes fizeram conosco antes e com resultados eleitorais importantes. Talvez, no momento, o veneno aja na direção contrária. Não deixa de ser veneno, mas administrado na dosagem certa pode até ser um remédio.