
Desde seu início, os BRICS aventavam a ideia de substituir o dólar como moeda de referência nas trocas comerciais internas do grupo por suas próprias moedas. Alguns anos se passaram, e a ideia sempre voltava nos anúncios dos objetivos. Algumas trocas entre pares de integrantes aconteciam, mas nada ainda efetivo. Parece que o anúncio da entrada da Arábia Saudita no bloco mexeu com uma base de estabilidade fundamental do dólar: o petróleo saudita, esse sim o lastro que manteve a hegemonia norte-americana – além dos marines, por certo.
O petrodólar, lastro moderno da referência monetária mundial, vai acabar, segundo afirma o reino saudita. Enquanto os BRICS vão se desfazendo dos títulos dos EUA e o déficit público interno alcança números extravagantes, trazendo suspeitas quanto à capacidade de financiamento futuro, o FED chuta a bola dos juros para o alto e transfere, momentaneamente, sua crise interna para os emergentes.
Até quando?
Até que cada um possa coletivamente organizar seus fluxos de moeda comercial, suportar a flutuação dos mercados financeiros internos e substituir, mesmo que parcialmente, o dólar como referência comercial.
O que seria uma quimera passou a ter um prazo anunciado: 3 anos.
Os BRICS assumiram o prazo de 3 anos para concluir a substituição completa do dólar entre suas trocas comerciais.
E contando.
Enquanto o dia não chega, o assunto está no debate presidencial entre os dois candidatos, Biden e Trump, com o segundo ameaçando retaliar quem propuser abandonar o dólar comercialmente. O atual presidente nada manifestou, até o momento.
Enquanto não chega, os EUA enxugam o mercado mundial de dólar na sua lareira com seus juros reais altíssimos para seus padrões e começam a aparecer na contabilidade números proporcionais de pagamento de dívida pública de países emergentes. Ou seja, um trilhão de dólares em serviço da dívida pública já foi e está longe de acabar a farra financeira.
Conhecemos a história: mesmo a máquina impressora de dinheiro mais poderosa da história tem limites, e estamos próximos de saber qual seria.
De nossa parte, e estou propondo modestamente há algum tempo, devemos congelar nosso câmbio e abandonar essa política de flutuação imediatamente. E trabalhar para sua completa substituição nas trocas comerciais externas o mais célere possível. Claro que teremos percalços e idas e vindas, fora as ameaças de Trump se eleito. Mas é o caminho, e não estamos sozinhos, muito pelo contrário.