
Ontem foi uma oportunidade para observar os rigores dos justiceiros encastelados na Câmara dos Deputados. Próximos dos dias de votação sobre a proibição de qualquer quantidade de posse de maconha como crime, eles votam pela soltura do suspeito de assassinar a vereadora Marielle.
Na comissão, ainda foi possível ouvir alguns argumentos inacreditáveis, sugerindo que assassinos não pegos em flagrante têm direito a responder em liberdade. Mesmo quando se trata de um crime de tamanha gravidade, cometido por alguém com poderes enormes tanto para fugir quanto para intimidar e obstruir os inquéritos, como, aliás, fez durante anos seguidos.
Até o filho 02 do presidente precisou gravar um vídeo defendendo a soltura do criminoso, ausente do plenário em mais uma daquelas viagens internacionais obscuras, precisou romper o silêncio para dar satisfação às suas bases, todas esperando o apito do cachorro sobre como proceder.
Não sai barato essa defesa aberta de um criminoso tão perigoso e audacioso. O caso é de conhecimento amplo e impacto, os deputados e seu líder, Arthur Lira, promoveram mudanças regimentais de última hora para evitar exposição demais, como a diminuição do tempo de debate e de falas, inclusive dos líderes do plenário. A coisa precisava ficar na moita, mas nem assim conseguiram. Mais uma vez o governo, que enfrentou a questão e escalou seus principais articuladores, quis manter Brazão na prisão. Até porque o bolsonarismo queria mandar recados ao STF e ninguém aguenta mais recados dessa gente.
Quem anda perdendo o rebolado é Arthur Lira. Apesar de seguir manobrando sem critério e limites, vai perdendo no voto e suas teses estão ficando pelo caminho. Só lhe resta o extremismo de direita; em seu estado, o adversário são os Calheiros, pai senador e filho ministro, que ocupam o centro e centro-direita, até flertando com a centro-esquerda. Lira já vê o fim do seu túnel, com as eleições municipais no segundo semestre e a paralisia quase total do parlamento, faltam apenas algumas poucas semanas para seu poder acabar. Parece que já começaram a servir o café mais frio para ele.
O bolsonarismo deve enfrentar mais um ponto de fragilidade agora. Brazão deve pegar uns 100 anos de cadeia e só vai restar a delação e acordos. Cobras e lagartos são esperados. Isso se coisa ainda pior não sair da boca imunda do miliciano assassino. A votação de ontem que manteve a prisão do bolsonarista Brazão foi mesmo um recado, para os Bolsonaros e Liras, que o tempo não corre mais a favor deles, muito pelo contrário.