
Muito, senão todo, do modo como as Forças Armadas no Brasil se veem pode ser encontrado nas origens da nossa república. Ela não foi outra coisa senão uma quartelada contra o imperador D. Pedro II. Entre os motivos invocados estava a insatisfação dos fazendeiros que perderam sua mão de obra escrava sem receber uma indenização. Por aí, podemos entender o que estava por vir.
Na virada para o século XX, a grande preocupação da república era ‘branquear’ a população, devido ao imenso número de negros e mestiços resultantes dos 300 anos de escravidão. Não é o caso de destacar apenas aspectos negativos do início da república, mas de perceber as raízes dos problemas que permaneceram e de onde a mentalidade militar construiu sua consciência.
A questão da tutela sobre os civis era e é tão profunda na alma militar que não abriram mão de mantê-la na Constituição de 1988, mesmo desmoralizados pelo regime ditatorial que estava acabando – e conseguiram.
O mesmo acontece agora, apesar de apenas 4 anos de governo na companhia do lixo bolsonarista. Deu para relembrar o desastre da administração fracassada do período militar anterior. Sem conseguir impor suas vontades pela força, são rapidamente enxotados por incompetência. De novo.
E chegamos à decisão de ontem do STF, que sobre o artigo 142 da Constituição afirmou não ser possível utilizá-lo para uma intervenção militar com a desculpa de impor uma ordem, muito menos para desrespeitar a própria Constituição. Ok, não será uma decisão do STF que impedirá futuros desmandos e golpes, mas a posição está marcada na história, algo que nunca fizeram antes.
Mas isso não é suficiente. Sem uma revisão do conteúdo disciplinar das Forças e uma discussão ampla, geral e irrestrita sobre o papel institucional dos quartéis, essa turma de alucinados e indisciplinados, antidemocráticos, voltará a carga .
A hora é boa para iniciar um expurgo, para iniciar um debate, para mudanças mais profundas na visão de mundo e no lugar dessa turma das baionetas. A hermenêutica das baionetas nunca prestou para nada e deve ser banida de nossa história. E quando falamos das Forças Armadas, não podemos esquecer das Polícias Militares, outro setor da vida nacional totalmente descontrolado e politizado, necessitando de uma reforma igualmente urgente e rigorosa.
Estamos longe de tudo isso, mas já vejo sinais. E são positivos.