Pacto de silêncio.

O governo de São Paulo, liderado por um ex-militar formado pelo General Heleno, que se tornou político e agora governador, nomeou para secretário de segurança um ex-comandante das tropas de choque da PM. O primeiro resultado foi o aumento exponencial das mortes decorrentes da nova atuação da polícia em São Paulo. Isso parece ter provocado uma reação interna dos comandos, provavelmente resistentes ao modelo violento, visto que a dupla governador-secretário de segurança está decidida a aposentar os resistentes – nas PMs se diz mandar para a reserva – 40% dos atuais comandantes dos batalhões.

Um expurgo interno na força policial que só encontra paralelo no regime militar.

Mas sabe o que me incomoda? A falta de reação. Nesse regime antidemocrático, sem transparência, que decide criminosamente confrontar e matar sem cerimônia e ainda afastar a resistência dos comandos, pode fazer tudo isso sem que os próprios policiais militares se manifestem. Penso nos cuidados que o presidente Lula, por exemplo, tem ao lidar com comandantes e como vigia sua relação com os militares, mantendo a todo custo os ouvidos abertos. E os olhos.

O que não ocorre no caso de um governo autoritário; ele age e continua sem enfrentar oposição.

Por quê?

Porque a natureza desses grupos é invocar a autoridade? Quem pode manda e quem obedece tem juízo? Ou algo mais acontece com a democracia e suas práticas que parecem insuficientes para enquadrar certos grupos dentro das instituições?

Ou talvez não seja nada disso, mas a própria essência da democracia e de seu oposto.

Enquanto um é silencioso, opaco, imposto, excludente, cruel, frio, acumulador, feio e triste, o outro é tudo o oposto. O que um pressupõe de acordo o outro discorda, o que um exige de unidade o outro de disputa, o que um só concebe força o outro concorda.

O que dá muito mais trabalho, enquanto o outro é apenas atalhos que não levam a lugar nenhum.

Um promove a morte e o outro a vida.

Um fala e o outro escuta.

Um ou o outro.

Essa é a questão. Ou melhor, a escolha a fazer.


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