
Atualmente, está na moda discutir a chamada Teologia da Dominação, supostamente inspirada no livro do Gênesis. Logo em seu início, durante a criação do homem, dos animais e da natureza, segundo o comando divino para que o homem dominasse sobre tudo.
Foi um pouco decepcionante perceber o tamanho do empenho dos fundamentalistas religiosos e de seus detratores em um embate sobre palavras tão simples. Nem vou entrar no mérito da crença em mitos de milhares de anos; só a disposição para debater sobre esses termos desanima qualquer um.
Inicialmente, o ponto básico de refutar usando uma tradução diferente da palavra hebraica para “dominar”, ou uma interpretação melhor, pareceu-me ser o mesmo uso equivocado dos argumentos furados dos fundamentalistas, só com os papéis invertidos. E não refuta nada; apenas consolida a base frágil da discussão e entra no jogo.
A meu ver, o que resolve a questão foi a posição assumida pela presidente do PT, Gleisi Hoffman, que não se envolve no campo minado da religião e coloca o debate em seu devido lugar: não estamos discutindo com religiosos, mas sim com um campo social. Ou seja, não importa no que se crê, mas sim no que se faz.
E, entre nós, se fosse para invocar a inspiração divina para a guerra, há muitas histórias sobre Javé, o deus líder do panteão politeísta dos povos de Edom, pré-árabe, que conquistou a região que hoje chamamos de Israel (e Judá na época) pela espada. Mas parece que nem Javé serve mais; o ideal atual seria Davi, Paulo e Jesus, que estão esquecidos nas atuais necessidades dos pastores-políticos-empresários.
O fundamento doutrinário dessa tal Teologia da Dominação é raso, tão raso que dispensa esforço e não pode ser levado a sério. Tem tudo para ser esquecido por falta de substância.
Já o esforço para dominar usando a religião como escudo, para enriquecer, fazer política partidária, etc., aí sim, esses tantos merecem o confronto como sujeitos sociais, e o falso uso das escrituras pode e deve ser denunciado. O limite de aproximação com esses tipos foi mostrado ontem no discurso do presidente Lula; sua genuína dúvida sobre valer a pena gastar tempo com essa turma é sempre evidente. Eu também penso que seria perda de tempo, melhor seguir governando e anunciando os bons feitos, deixando que o milagre aconteça do lado de lá.
O desenho que ilustra o post de hoje é Iavé, a figura sentada sua esposa Asserá.