Na sequência da vitória da direita democrática em Portugal e do crescimento da extrema direita no mundo, também em Portugal, estamos conhecendo, através de entrevistas sucessivas do ex-primeiro ministro português, José Sócrates, os fatos anteriores que levaram à derrocada do Partido Socialista, que governou o país por oito anos.
Ele nos conta sobre o “lawfare”, que o afeta pessoalmente há 10 anos, sendo perseguido por procuradores anteriormente filiados a partidos políticos conservadores, ele mesmo sendo um quadro dos socialistas portugueses. O “lawfare” também vitimou, há poucos meses, o primeiro ministro socialista, com falsas acusações de corrupção que provocaram sua renúncia, desestabilizando o partido e a sociedade, que reagiu elegendo seus adversários e uma representação de fascistas racistas inédita.
Nada disso é desconhecido para nós, já que sabemos como funciona por experiência própria.
Nessas entrevistas, o ex-primeiro ministro Sócrates faz uma observação sobre a política brasileira, que diz acompanhar com interesse. Para ele, a direita democrática brasileira acabou. Não existe mais. Diferente daquela que foi eleita lá em Portugal, segundo ele, e que de fato declarou não aceitar a inclusão dos fascistas na composição do futuro governo que estão montando.
Aqui, como sabemos, a direita foi engolida pelo fascismo bolsonarista e foi para os ministérios governar. Mas podemos dizer que ela acabou?
Se olharmos para a movimentação de seus quadros atuais, por exemplo, o Beto Richa, um tucano de quatro costados, que vai concorrer à prefeitura de Curitiba pelo PL do ex-presidente, segundo nos anunciam hoje, nada mais evidente do que essas movimentações para configurar o quadro de desespero da direita brasileira na busca por espaço político.
Até agora, estamos assistindo a coisas semelhantes em vários municípios, mas o grupo conservador majoritário no Brasil não é exatamente de direita; ele se diz de centro e faz o pêndulo trabalhar a favor de seus interesses paroquiais, apoiando os governos nas grandes questões em troca de cargos e verbas.
Talvez no Brasil a questão seja mais complicada do que pensa nosso amigo português, e é verdade que no Brasil a direita democrática foi engolida pela extrema direita, mas o bloco conservador fisiológico permanece onde sempre esteve, sobrevivendo das migalhas do poder.
Para uma mente cartesiana, como costumam ser a dos irmãos portugueses, talvez seja difícil pensar na política em termos fisiológicos. Conservadores sim, mas adaptáveis a qualquer governo, e pensar esse tipo de arranjo como viável. Eu prefiro dizer que sim, ele existe como um exemplo da nossa maleabilidade, da nossa capacidade de sobrevivência, tanto das elites econômicas e sociais como dos pobres, de certa forma, no nosso país, sem uma dose de maleabilidade é difícil segurar o rojão.
Não defendo, apenas faço a leitura, e discordo do ex-primeiro ministro Sócrates. Se ele enxergou corretamente a decadência da nossa direita democrática, faltou-lhe enxergar, até porque exige realmente um estômago de elefante, as camadas ocultas da política nacional, que são como as nuvens.
Respondendo a pergunta, talvez tenhamos que refletir se ela existiu.
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