
Uma província na Argentina, equivalente a um estado no Brasil, anunciou que começará a imprimir sua própria moeda, o que a constituição local permite, para fazer frente aos seus compromissos, incluindo a folha de pagamento do funcionalismo público.
Não é necessário um diploma em economia para perceber a dimensão do problema com essa decisão. Ao imprimir dinheiro sem qualquer lastro real, a Argentina está essencialmente criando papel sem valor, algo semelhante a uma forma de Bitcoin sem o respaldo da circulação mundial na pirâmide que o sustenta.
Em outras palavras, o país dá um passo definitivo em direção ao descontrole monetário, que provavelmente será seguido por hiperinflação e estagnação econômica. A corrida para o dólar é previsível, e longe de atender à demanda, a taxa de câmbio explode, levando o país ao calote da dívida externa e interna.
Podemos até considerar o plano de Milei, que, essencialmente, é desmontar as regras monetárias convencionais. Isso me lembra de uma entrevista com Tancredo Neves nos anos 80, quando discutíamos a nova constituição que seria concluída em 1988. Ao ser questionado sobre a validade de uma lei totalmente ultrapassada, Tancredo respondeu que, infelizmente, era necessário seguir a legislação existente até que uma nova fosse promulgada. Pior do que uma lei ruim, ensinou o veterano político, seria conviver sem nenhuma lei.
É exatamente isso que a Argentina de Milei está fazendo: destruindo o mercado cambial e as estruturas monetárias do país, sem propor ou preparar nada para substituí-las. A falácia da dolarização da Argentina não durou nem um minuto após o resultado da eleição que o levou à vitória. Por um motivo simples: ele não tem dólares suficientes para implementar a ideia. Aliás, atualmente, nem os EUA parecem ter moeda suficiente para seus gastos, imprimindo bilhões e trilhões incessantemente e renovando, a cada seis meses, os limites de seus gastos no Congresso.
Na falta de uma impressora que faça a mágica do dólar aparecer, a Argentina repete sua experiência de 2002, quando uma de suas províncias lançou mão da artimanha da moeda própria. Tão quebrada na época quanto agora, imprimiram apenas um lado do papel que queriam chamar de dinheiro, tornando-o inútil e que foi logo recolhido. Note que a moeda não servia nem mesmo para pagar a sua impressão.
Eu nunca entendi completamente o funcionamento do Plano Real, confesso. Há anos, aquela história da URV nunca fez sentido para mim. O plano foi um arrocho total, precedido por uma desvalorização maciça da moeda na época, e a meu ver, o aspecto fundamental foi a aprovação da lei de responsabilidade fiscal que obrigava os entes federativos a cumprir regras fiscais, acabando com a emissão de títulos de dívidas pelos estados, que nada mais era do que uma emissão de dinheiro para pagamento futuro. Essa decisão, para mim, foi o que reequilibrou o excesso monetário que causava inflação no Brasil. O arrocho, a desvalorização cambial e a recessão fizeram o trabalho que, no final, eliminou a hiperinflação no Brasil.
Nossa experiência mostra exatamente o que acontecerá na Argentina. O excesso monetário das províncias, somado ao que o governo de Milei também imprime para atender às suas necessidades, levará a Argentina à hiperinflação.
E por último, observar que no bojo das mais de 600 medidas de desregulamentação, incluíram uma espécie de excludente de ilicititude, lembra? Aquela lei que Bolsonaro tentou aprovar onde a polícia tinha liberdade para matar impunemente. Na Argentina já está em vigor.
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