Tempestades e inundações.

Diferentemente das estatísticas sobre o aquecimento global, que indicam 2023 como o ano mais quente já registrado, não tenho conhecimento de dados sobre chuvas. A impressão é que o regime mudou, com precipitações em períodos menores e mais intensos, trazendo os problemas que estamos enfrentando.

A inundação ou algum outro desastre natural não é, e nunca foi, uma novidade. É comum testemunharmos, para cada região do mundo, as consequências de chuvas, terremotos, furacões, tsunamis, calor ou frio excessivo, nevascas etc. No que diz respeito ao calor, como afirmei, temos uma compreensão melhor devido a estatísticas globais compartilhadas. Talvez os demais desastres sejam menos estudados porque têm causas e consequências locais. Talvez.

Sobre as inundações no Brasil e o retorno dos debates e discussões nesta época do ano, eu aproveito para lembrar que, depois que a cidade expandiu sem planejamento, concentrando prédios, ruas e avenidas, impermeabilizando os morros, tudo para atender unicamente aos interesses comerciais de empreiteiras e construtoras, não adianta reclamar com o prefeito. Ele pode estar contribuindo com esse tipo de ocupação desenfreada, mas também pode ser vítima das consequências de decisões anteriores.

Existem regiões que alagam naturalmente, sem a presença humana. Os rios possuem duas calhas principais visíveis: a calha alagada, onde as águas escoam o ano inteiro, e a calha da cheia, que, como o nome diz, conduz o excesso de volume de água periodicamente. A calha da cheia, assim como a alagada, é um processo dos séculos, dos milênios, obra da natureza em razão da topografia do lugar.

Conheço muitas cidades que foram edificadas nas aplainadas calhas da cheia, acompanhando o curso dos rios pequenos e médios, onde elas são bem visíveis. Não é preciso dizer que, nos períodos de muitas chuvas, as calhas da cheia estarão lá para cumprir seu papel de conduzir o excesso das águas, com ou sem uma cidade em seu trajeto rio abaixo.

Nas grandes metrópoles, a impermeabilização do terreno agrava a situação, aumentando a velocidade e o escoamento para as regiões mais baixas, impedindo a penetração no terreno de parte da água que corre morro abaixo e acabando por acumular nas depressões naturais ou nas mal projetadas. Não adianta coletar para evitar a cheia em si. O escoamento pluvial vai servir, se bem planejado, para reconduzir o excesso o mais rápido possível, após o acúmulo inevitável.

Não existe solução para cidades mal planejadas, córregos e rios aterrados ou manilhados, caminhos naturais de escoamento obstruídos e zonas de infiltração no terreno impermeabilizadas. Todos esses cuidados não fazem parte do cardápio de nossas ocupações nos terrenos de nossas cidades. Uma vez feito, nem sempre é possível amenizar, ou fica caro demais.

Todo ano repito esse texto.


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