Tantos golpes e nenhum.

O experiente jornalista Luis Costa Pinto escreveu uma reportagem e promete produzir outras, abordando os planos golpistas de bolsonaristas, militares, PMs e simpatizantes, recordando eventos a partir de 7 de setembro de 2021.

O cenário envolvia a disputa entre o governo bolsonarista e o congresso, então liderado por Maia e Alcolumbre, sobre as urnas e a necessidade de auditoria e voto impresso. Lula, solto desde 2019, era, na realidade, a grande ameaça e a causa subjacente do desconforto. Nos anos seguintes ao 7 de setembro e após a posse de Lira na presidência da Câmara, o foco mudou, passando a ter o STF como alvo principal de ataques.

Costa Pinto relata que em 2021 havia uma conspiração envolvendo o governo e as PMs estaduais, que foi impedida de se concretizar devido às ações de Toffoli, Aras, procuradores dos MPs estaduais e, posteriormente, do então presidente do STF, Luiz Fux. Este último enfrentou corajosamente a inércia da PM do DF e do governo Ibaneis, segundo nos conta a reportagem, impedindo a invasão do Palácio do STF com o uso de snipers na laje do edifício sede do STF.

Uma observação inicial é que todos os personagens mencionados nessas histórias compartilhavam a omissão durante os anos Bolsonaro. Nenhuma atitude de confronto ou afirmação democrática por parte deles era conhecida. Parece que agora estão tentando extrapolar acontecimentos.

Não estou dizendo que o jornalista inventa, mas penso que ele cita memórias duvidosas de fontes que agora querem ou precisam apresentar uma realidade, se não totalmente distorcida, certamente contada de maneira tendenciosa. Relatos de que os governadores poderiam ser presos em caso de problemas causados pelas PMs, parece improvável, considerando os inúmeros motins e rebeliões que ocorreram em diversos estados brasileiros sem consequência para eles.

O que sabemos com certeza é que Toffoli é uma pessoa na qual não se pode confiar, muito menos caracterizá-lo como corajoso; Aras é um procurador que pouco age, Fux é omisso e inclinado ao bolsonarismo, e novamente surge a história de que o sinal para o golpe seria a decretação de uma GLO.

Não entendo de maneira alguma o golpismo que precisa de uma decisão institucional prévia para acontecer. Para mim, nem o ocorrido em 8 de janeiro de 2023 foi uma tentativa de golpe. Mantenho a convicção de que, desde sempre, a disposição dos militares e PMs, de suas lideranças, foi mais para manietar o poder, utilizando ameaças para manter posições e privilégios. Golpes e tomadas de poder estavam no imaginário do bolsonarismo como uma ilusão, uma forma de impor por meio de ameaças pautas que a sociedade normalmente não aceitaria. Armas, escolas militares para civis, confrontos institucionais, desrespeito com países vizinhos, tudo que não deveria acontecer, mas é o que fazem. A política do choque em ação.

O fato é que os ataques do ex-presidente contra urnas eletrônicas, STF e coisas que tal, obedeciam muito mais a cálculo politico de ganhar e manter espaços e manter sua base mobilizada, do que propriamente organizar golpe de estado. Que afinal, nunca veio.

Não estou afirmando que as fontes mentiram para o jornalista, mas certamente aproveitaram iniciativas tímidas e laterais para usá-las em proveito próprio, quando chegasse o momento. Chegou?

Finalmente, observar que no Relatório Final da CPMI do 08/01 – de 1800 páginas de depoimentos, investigações e análises – nem uma linha sobre os fatos ou participação dos personagens citados no contexto da reportagem.


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