A apropriação de recursos por artifícios extravagantes parece estar extrapolando a blindagem normalmente destinada à proteção de deputados e senadores alinhados a certo tipo de atuação.

Com os acessos disponíveis às prestações de contas e reembolsos dos parlamentares, há um grupo de pessoas postando diariamente sobre o roubo descarado dos recursos e a total omissão na conferência das despesas efetuadas.

O clássico exemplo é aquela nota de gasolina que mostra uma quantidade consumida suficiente para ir à lua e voltar, e isso mensalmente. Além disso, há despesas com correspondência e papéis, coisas totalmente fora de propósito e talvez até de século, tão ultrapassadas que são, mas que rendem dezenas de milhares de reais nas prestações e reembolsos.

É evidente que a direção das casas legislativas aceita e concorda com o descalabro, utilizando o expediente para manter unida a tropa que não vive sem uma maracutaia.

Em tempos de bilhões sendo movimentados, quando o governo trabalha para incrementar a economia, estimular o desenvolvimento e promover a distribuição de renda, é inevitável lidar com essa gente mesquinha, acumuladora de propinas e sedenta por comissões e emendas para construírem o chafariz da praça ou asfaltarem a estrada que leva até as fazendas que compraram.

No entanto, é preciso entender que o Brasil é do tamanho da Europa, e não podemos exigir que nossos congressistas andem de bicicleta para o trabalho. Aqui, o transporte é o avião, e eles não voltam apenas para seus estados no fim de semana, mas para seus eleitores, o que é indispensável.

Não precisam de carros blindados, a maioria dispensa segurança, e o maior problema não são os papéis e as contas do posto de gasolina. Tudo isso mostra com que tipo de gente lidamos e como são tratados por seus líderes, que contam seus votos e escondem suas falhas mais grosseiras.

Seria uma questão menor, não fosse o retrato completo da expectativa do mandato e, por que não dizer, o objetivo. Não de todos, felizmente.